Basta parar um segundo para observar um objeto, para que seus olhos automaticamente fiquem alinhados em direção do mesmo, dando ao seu cérebro a capacidade de detectar sua distância, tamanho e características. A visão humana se desenvolve nos primeiros anos de vida, diante dos estímulos recebidos. No entanto, alguns distúrbios podem surgir ainda na infância, e se não forem tratados, podem causar sérios prejuízos à vida adulta. É o caso do estrabismo, que consiste na perda do paralelismo entre os olhos. “Nos primeiros seis meses de vida, é comum o bebê apresentar desvios oculares esporádicos, pois a sua coordenação ainda não está totalmente desenvolvida. Após essa fase, todo e qualquer desvio é considerado anormal e deve ser avaliado por um especialista. No entanto, antes dos seis meses, se o desvio for constante ou permanente, também deve ser avaliado pelo médico”, explica o oftalmologista Mauro Goldchmit.
As razões do estrabismo congênito ainda são desconhecidas, mas uma história familiar da doença aumenta significativamente as chances de nascerem outros membros com o mal. “Em grande parte dos casos, o estrabismo aparece no primeiro ano vida, mas algumas crianças desenvolvem estrabismo entre 2 e 4 anos, principalmente pela falta do óculos. Na idade adulta, o distúrbio pode estar associado à lesão na retina e nos músculos oculares, infecções virais, traumatismos, tumores, aneurismas, hipertensão, paralisia cerebral, desvio do eixo visual, diferença de percepção de um olho em relação ao outro, entre outros motivos”, aponta o oftalmologista Roberto Tadeu Castro.
AMBLIOPIA E DIPLOPIA
Quando o estrabismo surge ainda na infância, o desenvolvimento da visão pode ser comprometido e ocorre a popular ambliopia, também conhecida como ‘olho preguiçoso’. “Essa disfunção nada mais é do que o desuso, ou seja, se um dos olhos desvia, o cérebro tende a “esquecer” do olho acometido e reduz muito ou até perde a visão desse olho desviado, e, mais raramente, em ambos. Já se o estrabismo aparecer tardiamente, o cérebro ao invés de cancelar a imagem, duplica-a; esse processo é chamado de diplopia”, explica Castro.
Segundo Goldchmit, há diversos outros problemas oftálmicos que podem desencadear uma ambliopia, comprometendo a visão. São eles: distúrbios que impeçam a passagem de luz até o fundo do olho (por exemplo, catarata congênita, pálpebra caída, opacidades vítreas e leucoma corneano), tampando a visão; diferenças superiores a 2 graus entre os dois olhos, seja por miopia, hipermetropia ou astigmatismo, podem acarretar no desenvolvimento superior de apenas um dos olhos, pois a imagem não chega corretamente ao cerébro.
Nos modernos conceitos sobre a visão monocular, teses apontam que não há como caracterizar como deficiente aquele que possui estrabismo ou dificuldade oftálmica em apenas um dos olhos. “Há adaptação perfeita para o dia a dia e para as atividades laborais, mas há algumas profissões que os estrábicos podem enfrentar bastante dificuldade, por exigirem boa visão nos dois olhos ou noções de precisão e profundidade, como é o caso de um piloto de avião”, lembra Castro.
DIAGNÓSTICOS E TRATAMENTOS
Há diversos tipos de estrabismo, sendo que em cada um deles o olho pode ficar direcionado para dentro, para fora ou ter desvios verticais. “Ele pode se manifestar de forma constante ou intermitente, e em todo e qualquer caso, os exames clínicos e testes ortópticos, que determinam quantitativamente e qualitativamente o eixo e a visão desses olhos, devem ser realizados pelo oftalmologista. Toda suspeita de estrabismo deve ser investigada, pois quanto mais precoce for o diagnóstico e o tratamento, melhores serão os resultados obtidos”, destaca Goldchmit.
Depois de confirmada a presença da doença, o especialista iniciará o tratamento adequado dependendo de cada caso. “Em alguns diagnósticos, apenas a introdução de lentes corretivas (óculos) ou o uso de oclusão (tampão) podem ser suficientes. Sempre há resultados que são esperados e outros que não alcançam os objetivos, porém há melhora significativa. Em geral, o especialista recorrerá à cirurgia quando o estrabismo persistir, mas se a cirurgia for indicada, quanto mais cedo for feita, melhor a chance de a criança desenvolver visão binocular normal. No entanto, quando se refere ao estrabismo avançado, o procedimento cirúrgico se torna apenas estético, pois a incapacidade já se instalou naquele olho”, explica Castro.