Mooca – uma história surpreendente 0 10263

A marca dos índios, a chegada das ferrovias e o surgimento das indústrias na região

Informações históricas dão conta de que a primeira citação encontrada referente ao bairro da Mooca é de 1556. Na mesma época, a governança de Santo André da Borda do Campo comunicava que todos estavam “obrigados a participar da construção da ponte do rio Tameteai (Tamanduateí)”. Essa ponte se fazia necessária para a ligação entre a Zona Leste e a freguesia eclesiástica da Sé.

A região leste era habitada pelos índios da tribo Guaiana (tupi-guarani), que deixaram algumas marcas tradicionais no bairro, inclusive seu próprio nome. Segundo historiadores, o vocábulo é oriundo do tupi-guarani e possui duas versões: Moo-ka (ares amenos, secos, sadios) e Moo-oca (fazer casa), expressões usadas pelos índios da tribo Guarani para denominar os primeiros habitantes brancos, que erguiam suas casas de barro. Outros historiadores dão como certo que o mesmo é de origem asiática Moka, que significa variedades de café, que vinha antigamente da cidade de Moca (Yemem), porto do mar vermelho.

Museu da Imigração

TRANSFORMAÇÃO
A partir da transposição do rio Tamanduateí, acelerou-se o adensamento da área que foi gradualmente incorporando-se à cidade. O desenvolvimento urbano da Mooca está associado à história econômica de São Paulo e às rápidas transformações que, nas décadas finais do século XIX e a primeira metade do século XX, fizeram da capital paulistana uma grande metrópole industrial.

FERROVIAS
Em 10 de agosto de 1867, a Câmara Municipal de São Paulo, então chamada de Câmara Régia, começou a doar terras para a formação de um povoado.
Fator importante para a evolução da Zona Leste foi a instalação de duas ferrovias: a primeira, em 1868 a São Paulo Railway (estrada de ferro Santos-Jundiaí), assim conhecida como a Inglesa, ligava São Paulo ao porto de Santos. Por sua importância, um ano depois, em 1869, já se notava muitas casas pequenas e pobres e, assim, o povoado foi crescendo.
A segunda ferrovia surgiu em 1875, a estrada de ferro do Norte (o trecho paulista da estrada de ferro Central do Brasil), que ligava São Paulo ao Rio de Janeiro. Entre os novos bairros que surgiram destacaram-se o Belém e a Mooca, que atraíram numerosas fábricas.

JOCKEY CLUB
Em 1876, um fato importante marcou a história do bairro: Rafael Paes de Barros, senhor de muitas terras na região, que se estendiam até a Vila Prudente e Vila Alpina, criava o Clube Paulista de Corridas de Cavalo, atual Jockey Club, cujas arquibancadas comportavam 1.200 pessoas, no sopé das chamadas colinas da Mooca, no mesmo local onde hoje está instalada a Subprefeitura Mooca.
Em consequência disto, um ano depois, para atender aos apaixonados por turfe, se criou a linha de bonde Mooca-Centro, movida a tração animal.

 

BAIRRO VALORIZADO
Estava formado um envolvente centro de lazer, logo frequentado pela alta sociedade do café, que vinha do centro para apostar grandes somas nas corridas de cavalo, inclusive onde a Marquesa de Santos, já envelhecida, era uma das animadoras das corridas. Vale ressaltar que a Mooca foi escolhida para a localização do turfe de São Paulo por se tratar de um ambiente de alta categoria, considerada um bairro excelente para se morar.
A Mooca já era, então, um bairro valorizado. Juntamente com os largos São Francisco e São Bento, constituía ponto de passagem de carros puxados por animais.
Na época, este meio de transporte era uma inovação e logo São Paulo começaria a se transformar com a chegada da estrada de ferro inglesa, com um ramal se estendendo pela Rua dos Trilhos até o Hipódromo.

A Mooca foi escolhida para a localização do turfe de São Paulo por se tratar de um ambiente de alta categoria

ITALIANOS
Um nova civilização surgia com os primeiros italianos chegando a São Paulo e a preocupação deles com a produção de café. Em pouco tempo, estava firmada a Sociedade Italiana da Mooca. Depois, mais imigrantes chegaram, como espanhóis, portugueses e, na década de 30, os hungareses, como eram chamados os imigrantes da Europa Central e Ocidental.

FÁBRICAS
O bairro foi aos poucos se formando. O local, que era cheio de chácaras e sítios, logo passou a ser ocupado por fábricas e usinas, além de casas de moradias para seus operários. Assim é que entre 1883 e 1890 instalaram-se algumas fabricas de massa como Carolina Gallo, Rosália Médio, Romanelli e outras. Em 1891, o casal Antônio e Helena Zerrener fundaram a Cia. Antarctica Paulista.

TÊXTEIS
A Mooca também teve o seu valor na economia de São Paulo por conta da indústria têxtil, assim como de outros setores.
A pioneira foi a Indústria Rodolpho Crespi, depois vieram muitas outras: Armazéns Matarazzo, Grandes Moinhos Gamba, Casa Vanordim, Tecelagem Três Irmãos, Andrauss Cia Paulista de Louças Esmaltadas, Fabrica de Tecidos Labor, Frigorífico Anglo, Máquinas Piratininga, Aluminios Fulgor, Cia. União dos Refinadores etc. Com isso, a Mooca passou a ser considerada um bairro fabril.

CINEMAS
Mas não só de trabalho viviam os moradores do bairro. Em 1923 foram inaugurados o Cine Teatro Moderno, o Cine Santo Antônio, em seguida o Cine Aliança, o Imperial, o Icaraí (mais tarde Ouro Verde) e o Patriarca.
Outro lazer, aliás, prazer dos mooquenses, era o “footing”, realizado aos sábados e domingos, entre a Rua João Antônio de Oliveira e Avenida Paes de Barros. Nele, moças e rapazes podiam paquerar. Com a farta oferta de lazer e com um significativo número de boas lojas, o mooquense dificilmente saía do bairro.

A REVOLUÇÃO DE 1924
Em 1924, oficiais do exército, contrários ao governo do então presidente da República, o mineiro Arthur Bernardes, deflagaram um movimento nacional que, em São Paulo, resultou na derrubada do então presidente do Estado, Carlos de Campos. O governo federal reagiu e acabou massacrando a população da cidade.
A revolta demorou 23 dias e deixou como saldo 503 mortos e 4.846 feridos, em sua grande maioria civis.

FUGA DE MORADORES
Os bairros da Mooca, Belenzinho e Brás foram os primeiros a sofrer as consequências cruéis desse plano. Em desespero, os moradores começaram a abandonar suas casas. As famílias mais abastadas procuravam sair da cidade, com destino a Santos, Jundiaí, Campinas e outras cidades. Muitos, não tendo onde se abrigar, acampavam ao ar livre, armando barracas improvisadas em locais ermos dos bairros. Desta forma, o dia 13 de julho desse ano foi particularmente dramático para os paulistanos, especialmente para os moradores da Zona Leste.

CADÁVERES
Mooca, Brás e Belenzinho foram atingidos por um canhoneiro tão pesado que as ruas ficaram repletas de cadáveres. Os coveiros não davam conta de cavar sepulturas para enterrar todos os mortos, o que levou muitas famílias a enterrar os mortos nos quintais de suas casas.
Em 23 de julho, nova tragédia. Dois aviões carregados com bombas começaram a sobrevoar a cidade a elevada altitude, para evitar a artilharia dos rebeldes e atacaram a Mooca. A terra tremeu com as explosões, casas desabaram, muita gente morreu.

CASTIGO
E logo se percebeu porque este bairro fora escolhido: não encontrando muitos civis dispostos a se engajar na luta, os militares rebelados procuraram imigrantes italianos, húngaros e alemães, todos muito pobres, e lhes ofereceram 30 mil réis e a promessa de 50 hectares de terra. Muitos não resistiram à mirabolante proposta e se alistaram. Como a Mooca era reduto de trabalhadores italianos, acabou castigada.

A MOOCA PÓS-REVOLUÇÃO
Em 1925, a Avenida Paes de Barros, as ruas da Mooca e do Oratório, além de todas as transversais, ainda não possuíam calçamento. A primeira rua urbanizada foi a Conselheiro João Alfredo. Apesar de já existirem carros a motor, ainda eram muitos os veículos a tração animal.
O próprio corpo de bombeiros e os carros de segurança da Light moviam-se a tração animal. Apesar disso, logo o bairro receberia um prêmio: o bonde “camarão”. Neste período, o avanço do transporte facilitou a formação do Clube Crespi, do qual se originou o Clube Atlético Juventus.

Estádio da Juventos

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