Novas tecnologias surgem dia após dia para garantir o desenvolvimento econômico aos países, mais comodidade e qualidade de vida aos seres humanos. Mas tanto progresso traz também contratempos. Hoje, a maioria dos habitantes do planeta convive com a poluição atmosférica gerada pelas indústrias, lixões e esgotos industriais e domésticos, bem como com grandes congestionamentos viários (em alguns casos aéreos) e mudanças bruscas no clima, entre outros transtornos cotidianos.
São comuns também as diversas horas de exposição aos sistemas de ar condicionado, em ambientes fechados com grande número de pessoas e, consequentemente, maior exposição a partículas poluentes, vírus e bactérias, seja nos escritórios, aviões ou automóveis – com o agravante de que nem sempre os aparelhos têm a devida manutenção dos filtros.
Uma das consequências mais conhecidas e graves de tanta modernidade é o aumento do número de doenças respiratórias e de internações hospitalares, assunto que é há anos objeto de estudo de Paulo Saldiva, médico PhD do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental do Departamento de Patologia e professor de fisiopatologia pulmonar da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). “Com o aumento do volume de circulação de automóveis e caminhões, por exemplo, os índices de poluição, que estavam estabilizados nos últimos cinco anos, voltaram a crescer gradativamente agora, assim como o tempo de exposição das pessoas aos efeitos nocivos dos poluentes presentes no ar”, reforça o especialista. Segundo ele, em grandes cidades como São Paulo, os habitantes gastavam por dia uma média 1h45 no trânsito em 2008. No ano passado, esse tempo foi ampliado para 2h10. Durante esse intervalo, as pessoas presas em seus veículos respiram praticamente todas as partículas liberadas pelos veículos ao seu redor.
O problema se agrava porque com a poluição, geralmente ocorre queda da umidade relativa do ar, que atualmente é de 6 a 18% menor nas grandes cidades no comparativo com as zonas rurais. “Essa situação exige ainda mais esforço das vias respiratórias superiores, responsáveis por filtrar o oxigênio que será levado até os pulmões”, enfatiza Saldiva.
De acordo com Maura Neves, médica otorrinolaringologista do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP), o uso constante dos sistemas de ar condicionado é outra questão a ser observada. “Os aparelhos, além de resfriarem o ambiente, retiram umidade do ar e nem sempre contam com a correta manutenção, juntando em seus filtros ácaros, bactérias, esporos, fungos, algas e outros poluentes aos quais as pessoas ficam expostas diariamente”, afirma.
O nariz é a primeira linha de defesa do sistema respiratório contra a entrada dos agentes agressores, executando várias funções como umidificação, aquecimento, filtragem do ar inspirado e transporte mucociliar. Suas funções são afetadas por diversos fatores como poluição atmosférica, temperatura e umidade do ar, anatomia e volume da cavidade nasal, distribuição de fluxo sanguíneo, estresse emocional e tabagismo, que alteram a mucosa nasal, provocando ressecamento e, em alguns casos, congestão nasal.
Essa desidratação nasal resulta na redução da frequência do batimento ciliar (aquela fina camada de cílios microscópicos da parte interna do nariz) e compromete a filtragem das partículas poluidoras, que entram no organismo e podem causar infecções respiratórias, intensificar crises de asma e até mesmo provar lesões pulmonares.
“A questão é que, em geral, as pessoas não dão a devida importância à irritação nas narinas, à sensação de ressecamento da mucosa nasal ou a pequenos sangramentos do nariz, que podem ser resultado de horas de exposição à poluição. Mas é preciso dar atenção a esses sintomas e cuidar da hidratação nasal, que garante o funcionamento adequado das vias aéreas superiores e impede as partículas poluentes de prejudicarem o sistema respiratório como um todo”, reforça Maura, ao comparar a necessidade de manter a mucosa nasal hidratada aos cuidados que a população deve ter com a proteção solar.
E para hidratar as narinas é preciso criar o hábito de usar constantemente o soro fisiológico, que pode tanto ser o comprado em farmácia como aquele feito em casa. “Ele pode ser aplicado várias vezes ao dia e não tem contraindicação. Isso vai ajudar a umedecer as narinas, facilitar a limpeza e até a desentupir as vias respiratórias”, explica a médica Sandra Aparecida Ribeiro. Há ainda um gel, vendido nas farmácias, que também é feito à base de soro fisiológico. “O ideal é a pessoa escolher o que se adequa melhor a ela e, se não melhorar, procurar um médico”, diz. O uso de umidificadores de ar também ajuda, mas não dispensa esse cuidado com o soro. “O umidificador funciona apenas naquele ambiente onde está instalado. Quando a pessoa sai, a sensação pode voltar. Por isso é bom sempre manter as narinas hidratas com soro”, finaliza Sandra.