Mooca – 467 anos 0 5662

Tradição e modernidade se misturam no bairro

A força do local se dá também no amor de quem defende a região com unhas e dentes

Neste mês, a Mooca, um dos bairros mais tradicionais e antigos de São Paulo, completa 467 anos. Com sua fundação no ano de 1556, a região ainda concentra muitos imigrantes. Entre eles estão italianos, espanhóis, lituanos e croatas. O italiano Rodolfo Crespi, dono na época da maior tecelagem de São Paulo, o Cotonifício Crespi, fundado em 1896, é considerado um dos nomes que mais impactaram positivamente a região.
Por este exemplo, dá para notar a força e engajamento da Mooca no crescimento da cidade, principalmente no setor industrial. Por meio da via férrea, que ajudou no escoamento da produção da região na história, muitas indústrias ajudaram a construir a identidade do bairro e ajudaram no desenvolvimento da cidade.
Com o tempo, paralelo aos trilhos formaram-se vários bairros, que acabaram por atrair ainda mais fábricas e indústrias para as proximidades. A realidade culminou na forte presença de imigrantes nas áreas que mais tarde se tornariam os bairros do Belém, Brás e Pari, pois, as indústrias utilizavam a mão de obra imigrante que aportava em Santos e era trazida para o atual Museu da Imigração.

PRESENÇA INDÍGENA
Informações históricas dão conta também da presença indígena na região no mesmo período de 1500. Nesse sentido, uma das percepções ocorreu quando a governança de Santo André da Borda do Campo comunicou que todos estavam “obrigados a participar da construção da ponte do rio Tameteai (Tamanduateí)”. Essa ponte se fazia necessária para a ligação entre a Zona Leste e a freguesia eclesiástica da Sé.
A partir da transposição do rio Tamanduateí, acelerou-se o adensamento da área que foi gradualmente incorporando-se à cidade. O desenvolvimento urbano da Mooca está associado à história econômica de São Paulo e às rápidas transformações que, nas décadas finais do século XIX e a primeira metade do século XX, fizeram da capital paulistana uma grande metrópole industrial.
A região leste era habitada pelos indígenas da tribo Guaiana (tupi-guarani), que deixaram algumas marcas tradicionais no bairro, inclusive seu próprio nome. Segundo historiadores, o vocábulo é oriundo do tupi-guarani e possui duas versões: Moo-ka (ares amenos, secos, sadios) e Moo-oca (fazer casa), expressões usadas pelos indígenas da tribo Guarani para denominar os primeiros habitantes brancos, que erguiam suas casas de barro. Outros historiadores dão como certo que o mesmo é de origem asiática Moka, que significa variedades de café, que vinha antigamente da cidade de Moca (Yemem), porto do mar vermelho.

CLUBE JUVENTUS
Parte integrante da história da Mooca, o Clube Atlético Juventus foi fundado no dia 20 de abril de 1924, por funcionários do Cotonifício Rodolfo Crespi. Os grandes patronos do Clube eram Rodolfo e o seu filho Adriano Crespi, italianos da cidade de Busto Arsizio, na província de Varese, próximo a Piemonte. Rodolfo era simpatizante da Juventus, time de futebol da cidade italiana de Turim, enquanto o seu filho Adriano gostava da Fiorentina, de Florença.
O nome Clube Atlético Juventus nasceu numa homenagem à Juventus, porém utilizando a cor lilás, da camisa da Fiorentina. Com o tempo, aquela cor arroxeada foi passando para o grená (vinho) utilizada até os dias de hoje. Existe uma outra versão que diz que a camisa é grená em homenagem ao Torino, o outro grande clube de Turim. Assim, teriam sido homenageados os dois clubes dessa cidade.

COTONIFÍCIO CRESPI
Nesse mesmo período, a fábrica de 1897 do Cotonifício Crespi, do italiano Rodolfo Crespi, presenciou não apenas as marcas indeléveis do tempo, mas os tiros de duas revoluções (1924, a Tenentista, e de 32, Constitucionalista), o levante dos operários por melhores condições de trabalho, naquilo que ficou conhecido como a Greve Geral Operária de 1917, e obrigou, até o início dos anos 1960, milhares de trabalhadores a se engajarem no combate.
Hoje, a antiga fábrica, localizada nas esquinas das ruas Taquari e Javari, Visconde de Laguna e dos Trilhos, é ocupada parcialmente pelo atacadista Assai porte e segue imponente na paisagem. O imóvel tem a proteção municipal do Conpresp, órgão de preservação, por solicitação de alguns moradores que temiam sua descaracterização e demolição.

EXTERNATO MATTOSO
Outro imóvel que teve importância durante a Revolução de 24 foi o Externato Mattoso. Dele restou o recorte do que antes servia como escola para crianças. Tradicional área de trabalhadores italianos, o bairro foi muito castigado porque alguns imigrantes estrangeiros combateram ao lado dos rebeldes. As ruas ficaram cheias de cadáveres e os prédios, entre eles, cravejados de balas.
Na Rua dos Trilhos, 1269, o Externato foi um dos marcos da revolução. Fundado em 1910 pelas irmãs Etelvina, Mariana e Arlinda Mattoso, foi tomado pelos revoltosos, fato que fez com que as proprietárias fugissem para Santo Amaro. Com o tempo, a estação de trem local foi extinta e o externato, desativado, na década de 70. Por muitos anos, o prédio permaneceu fechado. Entre os anos 1990 e 2000, chegou a ser ocupado por uma escola de inglês e depois por uma fábrica de bijuterias, até que em 2005, cedeu lugar à pizzaria Bendita Maria.

JOCKEY CLUB
Em 1876, um fato importante marcou a história do bairro: Rafael Paes de Barros, senhor de muitas terras na região, que se estendiam até a Vila Prudente e Vila Alpina, criava o Clube Paulista de Corridas de Cavalo, atual Jockey Club, cujas arquibancadas comportavam 1.200 pessoas, no sopé das chamadas colinas da Mooca, no mesmo local onde hoje está instalada a Subprefeitura Mooca.
Em consequência disto, um ano depois, para atender aos apaixonados por turfe, se criou a linha de bonde Mooca-Centro, movida a tração animal.

COMPANHIA ANTARCTICA
Outro destaque da Mooca foi o Edifício da Companhia Antarctica Paulista, inaugurado em 1892 para ser a sede da Cervejaria Bavária. A partir de 1920, reformado, se tornou a sede da Companhia Antarctica Paulista, empresa do ramo de bebidas, sobretudo cervejas e refrigerantes, que teve papel importante na economia brasileira durante o seu período de atividade. A mesma foi desativada em 1995, cinco anos antes da Companhia concluir o processo de fusão com a concorrente Brahma, que originou uma das maiores empresas brasileiras, a Ambev. O prédio foi vendido em 2010 a empresários que pretendiam instalar um hotel, lojas e um teatro. Nada feito. Em 2016, o conjunto arquitetônico foi tombado como parte do patrimônio histórico da capital paulista por decisão do Conpresp, órgão municipal de preservação.

MUSEU DA IMIGRAÇÃO
Em meio a tantas disputas, após as primeiras leis abolicionistas, a imigração tornou-se uma saída para suprir a falta de mão de obra barata. Soma-se a esse contexto a situação de miséria e fome na Europa no fim do século 19 e início do 20. Assim, o Brasil, e mais notadamente São Paulo, principal produtor de café, desenvolveram políticas de imigração nas quais se inseriram o sistema de hospedarias, criadas para acolher imigrantes que vinham trabalhar nas lavouras e no início da indústria.
Inaugurada em 1887, a Hospedaria de Imigrantes foi a primeira morada paulistana de milhares de estrangeiros e brasileiros de outros estados que escolheram viver em São Paulo. Suas principais funções eram acolher e encaminhar os imigrantes aos novos empregos. Para isso, o prédio contava com a Agência Oficial de Colocação e Trabalho. Além de alojamento, disponibilizava de farmácia, laboratório, hospital, correios, lavanderia, cozinha e setores de assistência médica e odontológica.
Especialmente na década de 1930, a Hospedaria passou a acolher também trabalhadores migrantes de outros estados brasileiros. Na década de 1970, perdeu sua função original e em 1978 encerrou suas atividades.
Em seus 91 anos de funcionamento, a Hospedaria abrigou cerca de 2,5 milhões de pessoas de mais de 70 nacionalidades, origens e etnias.
Em 1982, ocorreu o tombamento do edifício pelo Condephaat, e no ano de 1986 foi criado o Centro Histórico do Imigrante. Já em 1991, o prédio passou pelo tombamento do órgão municipal Conpresp, logo depois foi criado o Museu da Imigração (1993). Tornou-se Memorial do Imigrante em 1998 e, finalmente, a renomeação para Museu da Imigração (2011). Fica na Rua Visconde de Parnaíba, 1.316.

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