A magia dos revestimentos cerâmicos 0 3627

Versáteis, eles são herança de um tempo muito antigo e podem ser usados em diversos ambientes

É quase impossível imaginar como seria hoje a arquitetura de interiores sem a variedade de revestimentos que o mercado oferece: madeiras, aço, vidros comuns e serigrafados, pedras naturais, papéis e os revestimentos cerâmicos. O setor cresceu tanto que no mundo todo existem eventos voltados aos lançamentos desses produtos no mercado. No Brasil, este mês temos a Expo Revestir, que permitirá a lojistas e profissionais se perderem nos infindáveis corredores de expositores que ofertam um mundo mágico de soluções e combinações.

Mas são os revestimentos cerâmicos que nos deixam mais atônitos, por trazerem possibilidades infinitas para todos os tipos de desafios. Soluções comerciais, residenciais, institucionais com características futuristas, naturalistas, técnicas, artísticas, industriais ou artesanais, enfim, opções para todos os gostos, mercados e funções.

Apesar da aparência moderna e inovadora de tais revestimentos, sua história é bem antiga. Se nos esforçarmos um pouco, vamos nos lembrar dos antigos azulejos na casa dos avós, confeitarias e pátios – uma herança ou legado português que, por sua vez, desde o século 15 mantém uma tradição implantada pelos mouros na Península Ibérica. A palavra azulejo tem origem árabe: azzelij (ou al zuleycha, al zuléija, al zulaiju, al zulaco) que significa pequena pedra polida e era usada para designar o mosaico bizantino. Associamos com frequência o termo à palavra azul (termo persa, lápis-lazuli), devido ao aspecto predominante da azulejaria portuguesa se apresentar em azul.

Portanto, os antigos mosaicos realizados pelas minúsculas tesselas de vidro ou cerâmicas podem ter sido os ancestrais dessa “moda” de revestir paredes e pisos com tais elementos. À medida que os artistas italianos redescobriram e desenvolveram “os afrescos” no século 15, a técnica do mosaico perdeu espaço, mas a azulejaria seria, nesse mesmo período, uma técnica muito importante na Espanha e Portugal, atravessando diversas fases. Mas quem pensa que é por aí que se inicia o hábito de revestir paredes e pisos com elementos vitrificados está enganado. O antigo Egito e Mesopotâmia (templo de Ishtar) já utilizavam tijolos vitrificados para revestimento. Além de decorar, informavam e protegiam as paredes que, no caso da Mesopotâmia, eram feitas de tijolos de barro cozidos ao sol, portanto, de baixa resistência.

Portugal foi um dos países europeus que mais utilizou esse material de revestimento ao logo da história moderna. Passando por diversas fases: geométrica e de motivos árabes (vindos de Sevilha na Espanha), fase renascentista (motivos vindos da Itália), fase barroca, neoclássica, modernista, etc. Todas suas cidades trazem monumentos arquitetônicos revestidos de painéis gigantescos que narram fatos históricos, conquistas ou cenas bíblicas ou, então, os de dimensões mais reduzidas como os que protegem as entradas das casas e estabelecimentos com imagens de santos. Aliás, até bem pouco tempo, casas ou pequenos sobrados de famílias de origem portuguesa e arquitetura popular empregavam tal painel logo na entrada, normalmente com a imagem de N. Sa. de Fátima, um comportamento sobrevivente direto dessa cultura.

O painel de pastilhas ao lado harmoniza com azulejo na cor creme e piso porcelânico imitando madeira para uma cozinha moderna, mas com ar “caipira”.
Detalhe da Praça de Espanha – Sevilha – 1914. Cada banco com painel azulejado representa uma província da Espanha.
Revestimento rústico de pastilhas mescladas é uma ótima opção para casas de campo, combina perfeitamente com madeiras e texturas coloridas, proporcionando ambientes mais aconchegantes que os polidos. Projeto do Espaço Cor – Maria de Souza e Marcelo Falci
Recinto do Real Alcázar – Alhambra, Granada – Século 14, revestido de azulejos com motivos geométricos de origem islâmica.

O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de revestimentos cerâmicos, ficando atrás apenas da China, Espanha e Itália. Essa, além de muitas outras, é uma bela herança do povo português, apesar de que a produção de revestimentos cerâmicos inicia-se no Brasil através das antigas fábricas de tijolos, telhas e ladrilhos hidráulicos, que hoje estão na moda como detalhe de piso ou parede, trazendo um ar nostálgico com sabor ibérico.

Os azulejos foram muito utilizados na segunda metade do século 17, no Brasil colonial, e todos vinham de Portugal. A primeira indústria a produzir cerâmica em nosso País foi a Cia Cerâmica do Rio de Janeiro, criada em 1910 por Américo Ludoff, substituindo a Grés e faiança Nacional, de 1907.

Na arquitetura contemporânea brasileira, dá-se o retorno de superfícies revestidas com azulejos através de painéis modernistas criados por Portinari para o Ministério da Educação e Cultura no Rio de Janeiro e para a igreja da Pampulha, em Belo Horizonte, projetados por Oscar Niemeyer.

Hoje, nós arquitetos e decoradores temos a difícil tarefa de escolher e arranjar harmoniosamente tais revestimentos nunca nos esquecendo da função a qual se destinam. Podemos defini-los para painéis meramente estéticos, onde são muito utilizadas as pastilhas e placas de mosaicos, ou então impermeabilizar elegantemente pisos ou alvenarias com cerâmicas porcelânicas ou porcelanatos, cuja resistência e impermeabilidade é a mais alta. O mais importante é não se deixar perder pela aparência, grandes dimensões e brilho. Pois conforto, beleza e praticidade têm que andar sempre juntos na hora de escolher o revestimento. Até mesmo o resgate e uso de peças de demolição pode acrescentar elegância e cultura ao valorizar um elemento de história milenar, como o azulejo.

Maria de Souza é arquiteta /paisagista do Espaço Cor e professora de Linguagem arquitetônica.
Tel.: 2673- 1116 / 8426-4009. www.espacocor.com.br

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