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O grupo Urban Sketchers chega à Mooca e convida as pessoas a saírem de casa para observar o bairro e desenhar pontos históricos

Em meados de 1700, quando o mundo contemporâneo ainda definia seus rumos e traçava seus espaços e natureza, era muito comum enviar desenhistas e aquarelistas para fazerem registros apurados da fauna e flora local de lugares como o Brasil, com sua Mata Atlântica cheia de características próprias, bem como registrar os habitantes da época, fossem dos povoados, ou dos centros urbanos em formação. E foi assim que artistas como Albert Eckhout vieram para o Brasil para fazer seus registros apurados. Eckhout veio com Frans Post para Pernambuco, a chamada Nova Holanda na época, na comitiva do governador-general Johan Maurits, conde de Nassau-Siegen, conhecido em nossa história como Maurício de Nassau, e o plano era retratar o Brasil holandês para os investidores europeus saberem a importância das terras ocupadas. Fascinado com nossas riquezas naturais, o pintor e desenhista holandês documentou frutas, flores, animais e pessoas do Nordeste brasileiro com desenhos e telas gigantes, com mais de dois metros de altura, de 1637 a 1644.

E o que tal realidade de época tem a ver com os anos 2000 do século 21? O simples fato de que não reconhecemos mais nossa cidade e seu recorte, seja ele histórico ou natural. Precisamos redescobrir cada recanto que compõe os lugares onde vivemos, assim como em nosso bairro, para com isso voltarmos a amar e admirar tais espaços.

E uma iniciativa mundial traduz essa ideia e muito mais ao promover encontros por toda parte, nos grandes centros urbanos. Trata-se dos Urban Sketchers, uma comunidade de correspondentes que reúne pessoas do mundo todo interessadas em produzir e compartilhar seus desenhos, produzidos através da técnica de observação e reprodução instantânea ao ar livre, conhecida como desenho de locação. Essa comunidade global inclui pintores, arquitetos, jornalistas, publicitários, ilustradores, designers e educadores, que publicam mais que apenas desenhos na web, compartilhando também a narrativa e as circunstâncias em que esses desenhos foram feitos.

E é aí que reside o bacana disso tudo: o se apropriar da cidade e de seus monumentos e edificações históricas, grande parte, referência local e até mundial, e com isso “narrar” essa cidade através de suas impressões, da forma mais lúdica possível, qual seja, em forma de desenhos e traços que reproduzem a beleza que jaz escondida no paisagismo urbano.

O começo disso tudo veio por intermédio do jornalista espanhol e residente nos Estados Unidos, Gabriel Campanario, que criou em 2008, o blog Urban Sketchers para reunir entusiastas desse tipo de atividade artística. E o Brasil tem sua versão própria do grupo, o Urban Sketchers Brasil, que conta com 23 correspondentes de 11 cidades diferentes, com mais de 160 mil visualizações em mais de 700 postagens. No Facebook, cerca de 1.200 membros compartilham essas ações e o número só tende a crescer (o blog internacional já recebeu mais de dois milhões de visitas desde sua criação).

Pode-se dizer que, se o fenômeno do Le Parkour, de pular e transpassar fisicamente “barreiras” arquitetônicas formadas por monumentos e locais históricos, ou outros acessos, foi a febre de alguns anos atrás, e permitiu que os deslocamentos urbanos tomassem ares um tanto circenses e não menos artísticos, o Urban Sketchers chega para ficar e transformar a ideia parada, concebida numa prancheta de desenho, em pura arte tridimensional nas ruas da cidade.

EDIÇÃO ESPECIAL MOOCA

Aqui em São Paulo, dois jovens arquitetos formados no Mackenzie, Eduardo Bajzek e Fernanda Vaz de Campos, são os responsáveis pela versão nacional. Enquanto Eduardo passou a ser o correspondente internacional de São Paulo do Urban Sketchers, desde 2009, Fernanda responde pelo blog Urban Sketchers Brasil desde 2011. Juntos, participam de eventos, palestras e encontros, dentro e fora do Brasil, e são responsáveis pelos agora encontros quinzenais na cidade de São Paulo.

Desenho de observação realizado, recentemente, no bairro de Campos Elíseos, região central de São Paulo

“Já realizamos mais de 35 edições em diversos locais da cidade, principalmente na Avenida Paulista e no centro, que são locais de fácil acesso. Mas já realizamos também encontros em parques como o Ibirapuera e o Jardim Botânico, além de trabalhar agora com temas específicos, como o encontro do bairro de Campos Elíseos, realizado com o site São Paulo Antiga, do Douglas Nascimento, e com o apoio da Porto Seguro, do Sebrae e da Papelaria Universitária. Recebemos o convite para realizar uma edição aqui na Mooca e ficamos muito gratos por nos chamarem pois, para nós, é um reconhecimento pelo nosso trabalho e mostra a importância de tal iniciativa”, conta Eduardo Bajzek .

A edição especial do bairro da Mooca está prevista para o dia 19 deste mês e o objetivo será, além de fazer os registros para posterior divulgação, como está dentro da proposta que rege o grupo, sensibilizar as pessoas e chamar a atenção para o recorte histórico do bairro que é um dos que mais sofre hoje com as descaracterizações urbanísticas, a verticalização, e a falta de interesse no patrimônio histórico remanescente.

Estão previstas passagens pelo complexo do Cotonifício Crespi (parcialmente ocupado por um supermercado), estádio do Juventus da Javari, Moinho Santo Antonio, Museu da Imigração e passarela da antiga São Paulo Railway, entre outros.

Saiba Mais
www.brasil.urbansketchers.org
www.urbansketchers.org

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