Interessante perceber os significados que a palavra movimento encerra em si mesma, e que vai de ‘ação de deslocar ou deslocar-se e seu efeito’, à ‘denominação de certos agrupamentos políticos’, bem como ‘agitação produzida por uma multidão que se move em diferentes sentidos’. Até mesmo a arquitetura utiliza o vocábulo para se referir a uma certa ‘variedade nas linhas de um plano, da elevação e da decoração de um edifício’, o que logo nos remete ao pensamento do nosso grão-arquiteto Oscar Niemeyer, cujas linhas e curvas encantaram e seduziram o mundo todo, tal como a graça e a forma de uma mulher. Mas para nós, fica o sentido figurado do termo, que é o de uma certa agitação política.
E hoje, com a velocidade das redes sociais, diversos movimentos surgem, ressurgem, e somem à velocidade da luz, provocando efeitos que podem ser sentidos na vida real. Pudemos perceber isso claramente nas últimas semanas, com as manifestações que tomaram as ruas do País e conseguiram fazer com que nosso políticos tomassem algumas providências importantes para o Brasil. Na Mooca, já há algum tempo, alguns movimentos lutam para conseguir melhorias para o bairro, principalmente referentes às áreas verdes, que são tão escassas. É o caso do Movimento Mooca Verde (MMV), cujo objetivo central está em melhorar a qualidade de vida das pessoas por meio do desenvolvimento sustentável, para isso estabelecendo um canal entre a sociedade e a Administração Pública. É o exemplo claro de que uma rede social, no caso o Facebook, pode resultar em uma sociedade organizada.
E tudo nasceu da cabeça de duas mulheres, preocupadas com o que podem deixar como legado para seus filhos, em termos de meio ambiente e o espaço onde se vive e convive. Uma delas é Adriana Paula d’Oliveira Zveibil, advogada apaixonada pela Mooca que atualmente mora no bairro. Casada, tem dois filhos e muitos sonhos sustentáveis, como gosta de afirmar, inspirados em sua cidade natal (Buenos Aires, na Argentina) e no bairro onde morou antes de vir para a Mooca (Perdizes, em São Paulo). “Nós abraçamos causas já existentes, como é o caso do Parque Verde da Esso (leia mais no box abaixo), para o qual conseguimos até o momento mais de 1.560 assinaturas, mas já promovemos também ações próprias, como uma feira de troca de brinquedos”.
Adriana ainda ressalta que o Mooca Verde é um movimento independente, apartidário e horizontal, onde todas as vozes são ouvidas de maneira democrática. Criado há pouco mais de um ano pelas moradoras da Mooca, vai além das redes sociais e procura marcar presença em todas as reuniões e audiências públicas que envolvam questões importantes do bairro, entre elas a implantação de calçadas verdes, a discussão dos planos diretores, e o incentivo ao uso de bicicletas como alternativa de mobilidade. “Sonho e acredito que a Mooca um dia será bem verdinha, porque nós, mooquenses, merecemos!”, diz.
Veronica Cassavia Diogo integra o Mooca Verde com Adriana. É jornalista, nascida e criada na Mooca. Também casada, tem duas filhas e acredita no poder transformador desse movimento. “Sempre que queremos curtir um dia de sol em família ao ar livre, atravessamos a cidade para visitar parques e áreas de lazer em outros bairros. Não sou contra o progresso e o crescimento ordenado das cidades, mas se não agirmos agora, o mercado imobiliário tomará conta do pouco espaço que nos resta e a qualidade de vida diminuirá ainda mais”, é o seu pensamento.
Pode-se dizer, com esse exemplo recente do Mooca Verde, que uma onda verde se instalou definitivamente no bairro da Mooca e a consciência ecológica está cada vez mais presente na cabeça de cada cidadão mooquense, já que existem outros exemplos que se unem a esse e ao Parque Verde da Esso, a saber:
Parque do IAPI – área verde de aproximadamente 4.800 m2 onde se pede a desapropriação para a construção de uma praça ou parque. Há um abaixo-assinado acessível no link goo.gl/Z5yhm
Praça Doutor Eulógio Emilio Martinez – mantida por moradores próximos, que fizeram uma verdadeira transformação no local, com implantação de brinquedos, iluminação e novo paisagismo. Hoje, o movimento tornou-se uma associação que preserva o local, a APEM.
Praça Visconde de Souza Fontes – mais conhecida como Praça do McDonald´s, é um local transformado em área de lazer por seus moradores e até frequentado por pessoas que vêm de outros endereços para caminhar ali ou trazer os filhos para brincar. Tornou-se referência de cidadania e, recentemente, vem passando por ampla reforma para atender as necessidades de seus frequentadores.
Parque da Vila Ema – apesar de localizado na Vila Prudente, o local pertence à jurisdição da Subprefeitura da Mooca e recentemente ganhou um grande aliado, a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, que irá fazer do local de 16 mil m2 comprado por uma construtora, área de utilidade pública para transformá-lo em parque, como desejado por seus moradores, como Fernando Sálvio, que deu o start nesse movimento.
Há também exemplos de preservação da identidade, como o Piccola Europa, um grupo de pessoas e instituições interessadas em resgatar as raízes europeias da Mooca através da ‘Piccola Europa’, um espaço pretendido no berço do bairro para a preservação da cultura em geral, da arte e da gastronomia dos países de origem dos imigrantes.
Quem explica sobre o Piccola Europa é seu mentor, Alfredo Toscano: “os italianos foram os que mais influenciaram no modo de ser ‘mooquense’, mas o bairro também recebeu portugueses, espanhóis, croatas, lituanos, húngaros, gregos, russos, poloneses e alemães, além de uma peculiar contribuição dos ingleses na sua arquitetura e contingentes étnicos de diversas nacionalidades, particularmente os judeus e os árabes. O Projeto Piccola Europa contempla uma relação mais estreita com os países europeus que contribuíram para a formação sócio-cultural deste querido bairro paulistano. Este fórum permanente online está sempre aberto para divulgar a história dos imigrantes, eventos e variedades sobre a Europa”, finaliza. Para entrar em contato com o pessoal do Piccola Europa, basta procurar pelo grupo no Facebook.
Até mesmo uma associação centenária como a Associação Comercial se faz valer da força de um movimento com o seu ‘Hora de Agir’, liderado pela Facesp, que visa abraçar e divulgar causas institucionais nas áreas econômica, política e social defendidas pelas Associações Comerciais. O objetivo do Movimento é conscientizar a sociedade, manter a população de todas as camadas sociais informadas e estimular o engajamento popular a agir em prol de causas que favoreçam a cidadania. Dele, faz parte a Distrital Mooca.
E para quem ainda duvida o que um movimento desses é capaz de gerar, basta refletir sobre a frase do grande educador brasileiro, Gilberto Freyre: “a pessoa conscientizada tem uma compreensão diferente da história e de seu papel. Recusa acomodar-se, mobiliza-se, organiza-se para mudar o mundo”.
Movimento Mooca Verde
www.moocaverde.com.br
Hora de agir
www.movimentoac.com.br
Parque Vila Ema
www.vivaoparque.wordpress.com