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Para se criar animais selvagens em casa é preciso autorização do Ibama e a consciência de que a vida em cativeiro pode ser estressante para eles

Eles despertam curiosidade e, muitas vezes, encantamento. Papagaios, passarinhos, cobras, tucanos, lagartos, tartarugas, jabutis, bugios e até saguis, têm sido cada vez mais requisitados como animais de estimação. No entanto, no Brasil, o tráfico de animais silvestres é um dos movimentos mais ilegais que existe. “A compra legalizada de um animal desse tipo só pode ser feita em lojas ou criadouros licenciados pelo Ibama”, explica a médica veterinária Mariana Pestelli, do Pet Center Marginal.

Segundo o Ibama, animais silvestres são os que pertencem às espécies nativas, migratórias, aquáticas ou terrestres, que tenham a sua vida ou parte dela ocorrendo naturalmente dentro dos limites do território nacional. Já animais exóticos são aqueles cuja distribuição geográfica não inclui as terras e águas brasileiras. O termo animais selvagens engloba tanto espécies silvestres como exóticas. “O Brasil possui uma gama imensa de espécies muito apreciadas no mundo afora e, culturalmente, as pessoas têm o hábito de manterem animais silvestres ou exóticos como bichos de estimação”, avalia Mariana.

De acordo com a veterinária, a solução para minimizar esse quadro é aumentar a fiscalização e conscientizar as pessoas para aquisição de animais legais. “O comprador deve exigir do vendedor uma nota fiscal com licença do Ibama, que será para sempre o documento que prova a legalidade da espécie comprada”, aponta. Se o consumidor se deparar com um comércio ou domesticação ilegal, deve denunciar imediatamente aos bombeiros, polícia ambiental ou Ibama.

O OUTRO LADO

Que cães e gatos são os preferidos como animais de estimação não resta nenhuma dúvida. Mas há quem goste de espécies diferentes. “Sempre tive cachorros, mas quando fui morar em apartamento procurei um pet shop legalizado e adquiri um lagarto, que faz pouca sujeira e não faz barulho. No ato da compra, eles colocam um chip no animal com uma identificação e esse número aparece na nota fiscal, para não ter problemas futuramente”, conta a empresária Sabrina Nascimento Strasdas Lima.

Com um ano e três meses, o pequeno Teiú (nome popular) vive aproximadamente 30 anos. “O teiú é um lagarto de hábitos diurnos, então é preciso suprir suas necessidades com relação à luz solar. Durante o dia, o aquecimento do terrário deve oscilar entre 28 e 32 °C e, à noite, de 22 a 26 °C. É usada uma iluminação artificial com lâmpadas e pedras térmicas, que transmitem radiação ultravioleta E, forte em vitamina D3, que auxiliam na digestão dele”, explica a proprietária.

Também é muito importante manter troncos e pedras no terrário, para que ele possa escalar, se exercitar e procurar abrigo. O ideal é manuseá-lo constantemente, pois os teiús, por natureza, são presas e poderão se mostrar receosos e tímidos. De temperamento naturalmente dócil, necessitam de um contato com os humanos desde cedo para se tornarem companheiros de seus donos.

Apaixonada por animais, Sabrina adquiriu o pequeno Teiú desde que foi morar em apartamento

CARINHO E ALEGRIA

Desde que chegou, há um mês, o sagui Apolônio se tornou a alegria da casa do empresário Nelson Neto. “Pesquisei na Internet e entrei na lista de espera de um criadouro legalizado. Como tinha preferência pela espécie do tufo branco e a maioria quer o preto, logo fui chamado para buscá-lo. E, a cada dia, ficamos mais surpresos com o carinho e os momentos bons que ele nos proporciona”, conta.

De personalidade alegre e carinhosa, Apolônio toma sol diariamente e não gosta de ficar sozinho. “Ele é muito companheiro e gosta do contato humano, sempre tem que ter alguém em casa, senão ele grita. Se abrir a gaiola, ele corre logo para o ombro de alguém. Aliás, o Apolônio dorme todas as noites comigo ou com meus irmãos, e só acorda quando alguém levanta”, explica Neto.

Segundo ele, o sagui já veio domesticado, sem traumas, e se adaptou logo à rotina da família. “Quando chega uma visita, ele se segura na gente e fica um pouco desconfiado. Depois de umas horas de convivência começa a chamar a nossa atenção com brincadeiras e se pendurando de ponta cabeça nas coisas. Ele é muito esperto, presta atenção na televisão, principalmente se aparecer árvores e plantas. A presença dele tornou nossos dias mais divertidos”, diz o empresário.

O sagui vive em média 20 anos e sua saúde requer poucos cuidados. Não precisa de vacina, nem vermífugo, e visita o veterinário apenas uma vez por ano. “Mas a boa alimentação é fundamental para seu bem-estar. Até ele completar um ano, precisa comer mingau diariamente, frutas variadas, iogurte e bala de goma. Segundo o veterinário, a espécie não pode comer salsicha nem chocolate, e nada que tenha passado pela nossa boca, pois a saliva humana é fatal para ela”, finaliza Neto.

COMPANHEIRAS DE DANÇA

Há quatro anos, duas jiboias ganharam um espaço na casa da bailarina de dança do ventre Rita Ferraz. “Sempre amei serpentes, então meu marido me deu um macho e uma fêmea de presente. Ele comprou no site de um criadouro, que nos forneceu os microchips, a nota fiscal e o cadastro do Ibama, além de um manual explicando tudo sobre a espécie”, revela a proprietária.

A jiboia fêmea acompanha a dançarina Rita até nas apresentações de dança do ventre

Elas são criadas em um terrário úmido, projetado com lâmpadas e placas de aquecimento, que ajudam no funcionamento de seu metabolismo. “De seis em seis meses levo as jiboias a um veterinário especializado em silvestres, para exames de rotina. E, diariamente, coloco-as para fazerem exercícios e se movimentarem”, afirma Rita.

Além das cobras, a bailarina cria cachorros. “Mantenho-os longe para evitar qualquer problema, mas elas são muito dóceis e carinhosas, nunca me pegaram de surpresa”, confirma Rita, que usa a fêmea nas apresentações de dança do ventre. “Embora, em geral, essa seja uma espécie meio chata de se movimentar, ela é surpreendente, adora sair e me acompanhar na dança, mas antes observo se ela está afim e respeito sua vontade”.

OS RISCOS

Animais de criadouros comerciais recebem contato humano após o nascimento e durante todo o seu desenvolvimento. A maioria deles adquire comportamento dócil e o hábito de se alimentar com rações industriais. Essa realidade é muito diferente da de indivíduos que vivem em habitat natural. “Sem contar que para esses animais, a vida em cativeiro é um sofrimento e um estresse constante”, aponta a veterinária Mariana.

Outro aspecto negativo, muitas vezes negligenciado, é que dificilmente se pode garantir a sanidade desse indivíduo. “Animais de vida livre podem ser portadores de doenças pouco conhecidas, sem demonstrar nenhuma sintomatologia clínica. Eles podem atacar o dono caso se sintam ameaçados, estressados ou com medo, principalmente se forem retirados da natureza. Por isso é muito importante o manejo correto do animal e a visita esporádica a um medico veterinário especialista em animais selvagens”, finaliza Mariana.

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