
A profissão de ator vai muito além de decorar textos e encenar diante de uma câmera. Pelo menos é essa visão que Luis Miranda defende cada vez que entra em um set. De volta às novelas após mais de 10 anos, o ator, que vive o professor Asdrúbal em “Êta Mundo Melhor”, tem visto o mercado sofrer fortes e preocupantes transformações. Por isso mesmo, não hesita em defender o espaço destinado às artes e aos profissionais nos últimos anos na televisão. “Estamos perdendo espaço para muitos influenciadores. Não é quantidade de seguidor ou influenciador que dá resultado. Quem dá resultado é talento. Talento quem tem é artista, não influenciador. A gente decora texto, ensaia, grava. Não tem tempo para TikTok. Temos brigado muito por isso. Temos perdido espaço para influenciadores. A mídia é que tem que abrir espaço para o talento. O talento não pode perder espaço para a mídia”, defende.
Na história das seis, Asdrúbal é um dos grandes aliados de Candinho, papel de Sergio Guizé, protegendo-o de golpes. Paquerador, joga charme para Margarida, papel de Nivea Maria, Medéia, de Betty Gofman, e Tamires, vivida por Monique Alfradique, ao mesmo tempo, o que vai lhe render muita dor de cabeça. “O Asdrubal vem camaleando personagens atrás do paradeiro do filho de Candinho. É uma novela bem-humorada e temos outro reconhecimento de Brasil, o Brasil também é caipira. O humor por si só se estabelece nessa trama tão bem escrita com criança, com bicho, com um elencaço, enfim”, valoriza.
P – Há mais de 10 anos de folga das novelas, você é um nome recorrente na linha de shows da Globo. Após emendar diversas séries, você estava desejando esse retorno aos folhetins?
R – Eu gosto muito de novela, mas não dava tempo de fazer. Sou um talento estratégico da casa e faço várias coisas. Além das séries, também faço filmes, né? Tenho muitas facetas. Tivemos três anos de muito sucesso com “Encantado’s”. Então, a série demanda um resguardo de imagem e impossibilita participar de produções maiores. A novela veio logo em seguida da série, mas tive um tempo para descansar minha imagem. Isso é importante para mim. Quando a gente emenda uma coisa na outra é ruim porque não dá tempo para se preparar bem. Eu gosto de estar sempre preparado. Tivemos um bom tempo de preparação. Acho importante voltar para as novelas. Novela é um produto forte da casa e precisamos de atores fortes, bons e profissionais fazendo novela porque é isso que dá resultado.
P – Como assim?
R – Não é quantidade de seguidor ou influenciador que dá resultado. Quem dá resultado é talento. Talento quem tem é artista, não influenciador. É importante que a gente saiba e diga isso porque as novelas vão continuar fracassando enquanto insistirem em colocar figuras que tenham essa imagem e não tenham qualidade profissional.
P – Você sente que há uma perda de espaço para os diversos influenciadores em ascensão?
R – Não estudam, não sabem nada, não fazem um dever de casa. Tem de chegar aqui e saber conversar sobre o trabalho que a gente faz, para que é feito, para quem estamos levando. A profissão de ator não é só glamour. Tem muita ralação. Estou ralando desde março na novela. A gente grava de segunda a sábado. Tem diurna e tem noturna. Esse é o trabalho do ator profissional. A gente decora texto, ensaia, grava. Não tem tempo para TikTok. Temos brigado muito por isso. Temos perdido espaço para influenciadores. A mídia é que tem de abrir espaço para o talento. O talento não pode perder espaço para a mídia.
P – Na sinopse inicial, o Asdrúbal é descrito como namorador. Como será o desenvolvimento amoroso do personagem ao longo dos capítulos?
R – Vai ter muitas surpresas. Ele vai se envolver com várias (risos). Tem a Margarida, Tamires, Medeia… Ele é bem galanteador. Mas quem vai ganhar o coração dele, ainda vamos descobrir. Eu não sei quem é, mas sinto que o Walcyr colocou umas pistas. Novela tudo pode mudar.
P – De que forma?
R – Novela vai apontando os caminhos no ar. A gente tem expectativas para seguir um personagem, mas, de repente, o público torce por outro desfecho e o autor acaba cedendo. Eu, inclusive, fico bem nervoso em um primeiro momento das novelas. A gente quer muito acertar. Então, até a novela estrear a gente fica meio na mão e pensando: ‘será que vai dar certo?’. Quando estreia, a gente vai relaxando um pouco mais e seguindo um caminho. Em um ano a gente pode melhorar muito.
P – Antes do início dos trabalhos de “Êta Mundo Melhor”, você estava finalizando as gravações de “Encantado’s”. Como foi seu período de composição para o Asdrúbal?
R – Foi rápido até porque estamos em um regime de construção de novela mais rápido. Tivemos algumas semanas de workshop de dança e época. A gente precisa ir filtrando algumas coisas.
P – Como assim?
R – O movimento do corpo é diferente, né? O texto exige uma elegância que a gente não usa muito. Um linguajar também. Até para improvisar a gente precisa estar com essa sintonia afiada. Adoro novela de época porque permite uma fantasia maior, mais jogo, mais brincadeira.
“Êta Mundo Melhor” – Globo – De segunda a sábado, às 19h30.
Mil e uma faces
Em “Êta Mundo Melhor”, Luis Miranda tem vivido várias vidas. Assim como Pancrácio, papel de Marco Nanini em “Êta Mundo Bom!”, fazia na trama anterior para ajudar Candinho em sua busca pela mãe, Asdrúbal tem a ideia de usar diferentes disfarces para conseguir informações sobre o filho desaparecido do novo amigo, o que o coloca em várias confusões. “Tenho faculdade nisso, né? Criei o ‘Terça Insana’, que tinha um pouco disso. Tinha também isso no ‘Zorra’. Eu amo isso demais. Temos uma equipe de caracterização de mão cheia”, valoriza.
Ao longo dos próximos meses, Luis espera encarar as fantasias mais exóticas e tresloucadas no enredo criado por Walcyr Carrasco e Mauro Wilson. “Seria legal fazer uma noiva desesperada, uma noiva grávida. Temos tido espaço para sugerir bastante coisa. Sugeri que o Asdrúbal estivesse sempre se exercitando em cena. Todo ator que é criador e escreve, gosta de contribuir um pouco com a dramaturgia”, aponta.