Quem nunca decidiu se matricular na academia depois de se olhar no espelho e não gostar nada do que viu refletido? A estética é o impulso para muitas pessoas começarem a praticar uma atividade física. Mas todo mundo sabe que o maior benefício não é um corpo bonito e sedutor, e sim saúde e vida longa. Se praticada regularmente e com boa supervisão, a atividade física ajuda no tratamento e na prevenção de doenças e, em muitos casos, faz com que as pessoas tomem menos remédios.
“O exercício físico pode auxiliar no controle e melhora do quadro de diversas doenças como diabetes, obesidade, hipertensão, síndrome metabólica, lombalgia e problemas cardiovasculares, além de provocar adaptações positivas nos sistemas respiratório, cardiovascular e endócrino, o que torna o organismo mais tolerante ao estresse e desgastes físicos”, explica Nilo França, professor da Cia Athlética e especialista em reabilitação cardiovascular e grupos especiais.
Embora ainda não seja uma prática corriqueira nos consultórios, existe um movimento para que os médicos trabalhem em conjunto com educadores físicos e outros profissionais de saúde na recomendação de exercícios físicos aos pacientes. “Essa é uma tendência mundial”, diz Sandra Marcela Matsudo, diretora geral do Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul, que trouxe para São Paulo o programa Exercise is Medicine, que promove a capacitação de médicos e profissionais da saúde para recomendar os exercícios físicos a seus pacientes. “Além de prevenir uma série de problemas, o exercício tem efeito comprovado na saúde mental, como na prevenção da demência, Mal de Alzheimer e depressão e também tem um efeito no desempenho cognitivo das pessoas que têm uma prática regular”, diz Sandra.
O fato é que a atividade física atua em diversas frentes e, quando praticada com regularidade e seriedade, ajuda no tratamento e cura de muitos problemas. “No caso de qualquer doença, o esporte pode ser um aliado porque libera endorfina e serotonina, hormônios que são grandes aliados porque fazem a pessoa se sentir melhor”, explica Lucas Leite, médico ortopedista do Hospital São Luiz.
O simples fato de combater o sedentarismo já torna o exercício fundamental no tratamento de doenças como o câncer, no qual a obesidade é um fator de risco.
Prevenção e problemas
O ideal é que crianças e adolescentes sejam estimulados a ter uma vida ativa para que tenham menos chances de se tornar adultos sedentários. Porém, nunca é tarde para começar. A única regra é que se leve a prática a sério e faça uma avaliação física antes. Isso pode fazer toda a diferença. Exercícios mal orientados podem se tornar um problema em vez de uma solução. Quando não se respeita a condição física de cada pessoa, lesões e até o agravamento de problemas podem acontecer. “O exercício deve ser prescrito adequadamente de forma a não sobrecarregar o organismo e criar uma janela aberta para infecções. Nesse processo, a alimentação e o repouso são muito importantes para uma plena recuperação do organismo após a realização do exercício”, explica Nilo. “O excesso pode causar lesões, depressão, distúrbios metabólicos e abandono da atividade. Por isso, deve ser dosado para cada idade e tipo físico. Em muitos casos, a gente começa com exercícios fisioterápicos e evolui gradualmente”, explica Lucas.
Para quem não está com nenhum problema de saúde que demanda exercícios direcionados, vale a regra de escolher uma atividade para praticar regularmente. Isso significa no mínimo três vezes por semana por cerca de 45 minutos. “Menos do que isso não dá para considerar uma prática regular”, diz Lucas. A intensidade vai variar de pessoa para pessoa.
Doenças x Exercícios
Problemas cardiovasculares
Ajuda a controlar e reduzir o colesterol ruim (LDL), presente nas gorduras saturadas, e a elevar o colesterol bom (HDL), que auxilia a diminuir o processo inflamatório das artérias e, consequentemente, atua na prevenção do enfarto e AVC.
Ansiedade
Liberam hormônios como a Endorfina, que tem a capacidade de trazer a sensação de prazer e bem estar. Mas é preciso ter cuidados. “Às vezes, na hora de praticar o exercício escolhido, a pessoa se confronta com um ambiente que pode agravar o quadro. Uma pessoa que tem Síndrome do Pânico, por exemplo, ao se deparar com um ambiente onde há muitas pessoas pode se sentir mal. Então, é preciso ir devagar. Porém, depois que essa fase é superada o exercício trará muitos benefícios”, explica Lucas Leite.
Lombalgias
Auxilia na melhora da postura e fortalecimento dos músculos do CORE, que fazem a sustentação do tronco e previnem as crises.
Câncer
Obesidade e sedentarismo aumentam a chance de surgimento da doença. Estudos demonstram que indivíduos fisicamente ativos são menos atingidos por essa patologia.
Acidente Vascular Encefálico
A principal ação é de forma preventiva, agindo nos fatores de risco. “O exercício ajuda na redução e controle da pressão arterial e de diabetes, o que pode auxiliar na prevenção do AVE”, explica Nilo França.
Osteoporose
A musculação é fundamental no tratamento do problema porque estimula a modelação e formação óssea. Deve ser associada à ingestão de cálcio e vitamina D, além da exposição ao sol, que vai ativar as funções da vitamina D.
Diabetes
Os exercícios ajudam a diminuir o valor da glicose no sangue. Em pré-diabéticos ou em quem tem o diabetes baixo, pode até fazer com que se pare de tomar o remédio. Em outros casos, pode fazer com que se diminua o uso de insulina. Mas, para que os níveis de glicemia não se alterem demais é preciso que haja uma boa orientação médica. A preferência são os exercícios aeróbios, como caminhada, corrida e natação.
Qual exercício escolher
Ciclismo
Sem causar grande impacto nas articulações, melhora o condicionamento físico, fortalece a musculatura, melhora o sistema cardiovascular e respiratório. Um treino bem orientado ajuda a controlar os níveis do colesterol, da pressão arterial e ainda a baixar o percentual de gordura corporal.
Riscos – O selim desajustado pode causar lesões na genitália masculina, nos tendões dos joelhos e no tendão de Aquiles. Para reduzir esses riscos, é recomendado ajustar o selim conforme a altura da pessoa e também usar equipamentos de segurança.
Corrida
Estimula a produção de endorfina, responsável pela sensação de prazer, bem-estar e diminuição do estresse. Beneficia a circulação sanguínea e a musculatura, além de regular o sono.
Riscos – Desidratação, lesões nas articulações dos membros inferiores e a condromalacia patelar, popularmente chamada de “joelho de corredor”, uma inflamação na cartilagem que causa dores e desconfortos.
Danças
Melhora a coordenação motora, fortalece a musculatura, ajuda a emagrecer, favorece a memória, a expressão corporal, a capacidade cardiorrespiratória e estimula o trabalho em equipe.
Riscos – Sobrecarregar os tendões, torções nos joelhos e tornozelos por treinos intensos.
Futebol
Melhora a agilidade e a coordenação, trabalha a musculatura, favorece o sistema cardiorrespiratório e o trabalho em equipe.
Riscos –Lesões nos ligamentos, fraturas expostas e síndrome do “joelho de corredor”.
Hidroginástica
Ajuda a emagrecer e a regular a pressão arterial, fortalece a musculatura, melhora a coordenação motora, a flexibilidade, a circulação sanguínea e a respiração.
Riscos – Raramente lesões musculares por treinos intensos.
Musculação
Fortalece e define a musculatura, ajuda a emagrecer, favorece a qualidade do sono, reduz o risco de problemas cardíacos, diabetes, colesterol alto e hipertensão.
Riscos – Treinos intensos ou mal orientados podem causar dores nas costas, desvio de postura, romper ligamentos e provocar lesões nas articulações.
Natação
Está entre as atividades físicas mais completas. Trabalha todos os músculos, melhora a coordenação, o sistema respiratório, regula a pressão arterial e reduz a frequência cardíaca.
Riscos – Treinos intensos ou mal orientados podem causar lesões e agravar problemas como tendinite e hérnia de disco lombar.