Rugby: você conhece? 0 8033

Sem tradição no Brasil, esporte precisa ganhar popularidade, e campo público do Tatuapé é alternativa para quem quer treinar ou conhecer um pouco mais sobre a modalidade

Adeptos do rugby conquistaram o primeiro campo público do esporte na capital, dentro do Parque Esportivo dos Trabalhadores (PET) – antigo Ceret – no Tatuapé. O novo campo será usado para treinos e competições dos times atuais, e também como polo de crescimento da modalidade, levando o rugby para dentro das escolas. A Federação Paulista de Rugby já oferece aulas gratuitas  às quartas e sextas-feiras, e nos fins de semana há treinamento de alguns times. “O campo do PET tem importância histórica, pois marca o início daquilo que consideramos necessário para fazer do rugby um esporte popular. Ter um espaço exclusivo cedido pela prefeitura indica que a modalidade é vista e entendida pelas suas qualidades. Esse  foi o primeiro passo para popularizar o esporte, que vem ao encontro do planejado pela nossa federação”, avalia Eduardo Pacheco, Relações Institucionais da Federação Paulista de Rugby.

Dentro de campo, o rugby tem como objetivo a soma de uma maior quantidade de pontos, com o passe de bola sempre para trás ou para o lado. Mas, por ser um esporte de extremo contato físico, “é fundamental selar as partidas fora de campo com uma espécie de terceiro tempo, período obrigatório em que todos se reúnem em confraternização, com muita alegria e descontração, para comentar informalmente sobre as principais jogadas da partida”, conta Pacheco. Aliás, uma das missões do rugby é justamente passar valores de união e amizade entre os atletas, que se dividem em duas equipes apenas no momento do jogo. “Disputa só acontece dentro de campo, fora não existe espaço para atitudes antidesportivas”, completa.

A NOSSA SELEÇÃO

Na década de 1950, o Brasil começou a participar de partidas e campeonatos internacionais da modalidade. Mas, pelo fato de o rubgy ser um esporte pouco difundido no País, a Seleção Brasileira enfrentou grandes dificuldades ao longo de sua história, perdendo para seleções como as do Uruguai e da França. No terceiro grupo do rugby mundial, a Seleção Brasileira de Rugby Masculino segue pela modalidade do Rugby Union, mas ainda não conseguiu se classificar para a Copa do Mundo; em contrapartida, já faturou o bicampeonato no VII Sulamericano ConSur B. A seleção feminina também não deixa nada a desejar, com um histórico hexacampeonato.

Sobre as expectativas para as Olimpíadas de 2016, o capitão da seleção de Seven, Fernando Portugal, explica que a Confederação Brasileira de Rugby tenta negociar a garantia de uma vaga ao Brasil junto ao órgão responsável pelas Olimpíadas, já que seremos o país sede. Caso isso não seja possível, será necessário disputar a classificação com outros países sul americanos. Ainda assim, ele é otimista.  “Ainda não temos o preparo suficiente para alcançar um resultado sensacional, mas há bastante tempo, e o trabalho tem sido intenso e bem elaborado, não só nos treinos, mas na captação de recursos também. O brasileiro é um povo determinado e tem um marca forte no quesito esporte. Tenho certeza que, se continuar assim, nossas chances são muito boas”, diz. “Os jogadores brasileiros têm um estilo de jogo muito interessante e criativo, são bons de improviso e evitam o contato físico em excesso. Trabalhamos e acreditamos em nossos sonhos, no amor que temos pelo rugby, nos nossos treinadores e companheiros de dentro de campo, mas ainda falta muito. A divulgação é necessária não só para captar alunos, praticantes, mas torcedores e pessoas que acreditem e conheçam os valores, mecanismos e benefícios do rugby”, alerta o capitão.

Fernando Portugal arrisca alguns chutes no campo do Parque Esportivo do Trabalhador, no Tatuapé

O atleta, que começou sua carreira há cerca de 15 anos, é considerado um dos grandes nomes do esporte no Brasil. “Sempre fui muito tímido e tinha problemas em me relacionar, fazer amigos. Acho que foi um dos motivos que me levou ao fascínio pelo rubgy. Somos uma família dentro e fora de campo; temos uma filosofia baseada em respeito e companheirismo, do juiz ao adversário. Por ser um esporte de muito contato, se não fosse assim geraria violência – o que raramente acontece”, afirma Portugal.

Além de capitão de Seven, o atleta joga pela seleção de Unions, é administrador e fundador do portal Rugby Spirit (www.rugbyspirit.com.br), participa de projetos sociais no universo do ruby, é comentarista e ainda representa o clube Bandeirantes. “Idealizamos um projeto chamado Bandeirantes do Rugby, que tem o objetivo de espalhar o esporte pelos quatro cantos do País, levando o rugby para a população que não tem acesso. Queremos acabar com a imagem de que o rubgy é esporte de elite, por isso oferecemos aula, alimentação e transporte gratuitos para 120 crianças da rede pública, duas vezes por semana. É um projeto muito bacana, que capta recursos e, consequentemente, torna o rugby mais popular”, explica Portugal.

ORIGEM E POPULARIDADE

O início do esporte aconteceu em 1823. Segundo registros, esse fato se deve a um garoto chamado Willian Webb Ellis, morador de uma cidade no interior da Inglaterra. O menino disputava uma partida de futebol na Rugby School e, durante o jogo, teve uma desatenção sobre as regras, pegou a bola com as mãos e correu segurando-a nos braços até chegar ao gol. Mas ninguém sabe ao certo se essa  história, envolvendo a má conduta de Willian Webb Ellis, em uma partida na escola, é verdadeira. O fato é que essa é a versão da história do rugby mais aceita. “Segundo o autor de Memórias da fundação do Guaíba Rugby Clube (2009), Márcio Henrique Carneiro, o rugby chegou ao Brasil pelas mãos de Charles Miller no século retrasado, o mesmo cidadão inglês que  trouxe o futebol para o País. Sua disseminação pelo mundo aconteceu rapidamente e hoje é disputado em 100 países. A quantidade de espectadores do esporte se equipara ao público da Copa do Mundo de Futebol, Fórmula 1 e das Olimpíadas”, avalia Pacheco.

No Brasil, o desafio de tornar o esporte popular passa primeiro por torná-lo conhecido, através do acesso à modalidade. “Atualmente, há em torno de 10 mil praticantes do rugby no País, sendo no Estado de São Paulo a maior concentração. Aliás, o trabalho que tem sido realizado aqui abrange três frentes: criar espaços específicos para a modalidade; capacitar professores e levar o rugby para dentro das escolas públicas e privadas, já que o esporte foi incluso na Proposta Curricular do MEC; e fortalecer e consolidar os times e clubes que já existem”, defende Pacheco.

Equipe amadora treina no campo do Parque Esportivo do Trabalhador

O Jogo

O jogo de rugby é disputado por duas equipes, de 7 ou 15 jogadores, dependendo da modalidade; além das categorias para crianças e adolescentes separadas em M17 e M15. A partida é dividida em dois tempos, sendo que no Rugby Sevens, com 7 jogadores em cada time, cada tempo tem sete minutos; já no Rugby Union, com  15 jogadores de cada lado, há dois tempos de 40 minutos cada, mais acréscimos por interrupções. “Os jogadores com os números do 1 ao 8 são conhecidos como atacantes (ou pack), sendo que os de 1 a 5  também são conhecidos como tight five (ou front 5). Os jogadores de 1 a 3 formam a linha da frente; o 6 e o 8 são os atacantes (ou linha de trás) e os de 9 a 15 são os zagueiros”, explica Pacheco.

As pontuações são bem variadas: o try atribui cinco pontos ao jogo; essa jogada acontece quando um jogador coloca a bola contra o solo na “área de validação” do time adversário, que é demarcada com linhas brancas no solo do campo; ainda há a conversão, que vale dois pontos, e o drop goal e o penalty, que equivalem a três pontos. “Para que se possa avançar é necessário estar em posse da bola ou realizar passes para frente por meio de um chute. Há uma ação de jogo chamada tackle, que consiste em derrubar o adversário, mas só é permitido tacklear um atleta que está com a bola para tentar tomar a posse, caso contrário é considerada falta”, afirma Pacheco.

Saiba Mais
O campo do PET está disponível todos os dias, para crianças e adultos. Para utilizá-lo, basta ter um time formado e agendar o treinamento pelo telefone 2925-8678 ou e-mail pet@fprugby.org.br

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