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Na trilha de Portinari

É preciso um pouco de paciência para percorrer os 337 quilômetros que separam São Paulo da pequena e bucólica Brodowski, uma cidade de 19 mil habitantes que fica a poucos quilômetros da badalada Ribeirão Preto. Mas é perfeitamente possível fazer o trajeto de ida e volta pela Bandeirantes/Anhanguera em um fim de semana. E o motivo da viagem é nobre: conhecer o lugar onde o pintor Candido Portinari nasceu e viveu até os 15 anos e ainda ter contato com a sua obra e história. Você pode até se sentir cansado quando chegar em casa no domingo à noite, mas, com certeza, não terá se arrependido.

Terra natal de Portinari, Brodowski tem como grande atração turística o Museu Casa de Portinari, um espaço que preserva a história desse pintor, principalmente suas raízes interioranas. Foi nesse cenário que o hoje internacionalmente conhecido Candido Portinari presenciou cenas que o inspiraram em muitas de suas obras como Retirantes e Meninos de Brodowski.

O museu fica exatamente na casa onde o pintor nasceu e viveu. Lá, o visitante não vai encontrar nenhuma das famosas telas de Portinari, mas sim marcas que ele deixou nas paredes. E não se trata de nenhuma travessura de criança. São pinturas murais feitas nas técnicas de afresco e têmpera.

Quando se mudou para o Rio de Janeiro e de lá ganhou o mundo, Portinari voltava frequentemente à casinha de Brodowski, onde seus pais viviam. E era nesses períodos que fazia essas pinturas. Em uma carta escrita para Mário de Andrade em 1940, contava de um convite para participar de uma exposição em Detroit e dizia que, por isso, pretendia ficar mais tempo em Brodowski, onde se sentia mais à vontade para pintar.

É um lugar extremamente tranquilo e arborizado, fica bem no meio da praça, tem um jardim muito bem cuidado em toda a volta e, longe da pompa dos grandes museus, preserva o clima de “cidade do interior”. É como se a casa estivesse sempre de porta aberta para você entrar, “prosear e tomar um café”.

Durante a visita, é possível percorrer os vários cômodos da casa, incluindo a sala, o quarto, a cozinha e o ateliê do artista. Há uma grande quantidade de objetos de uso pessoal, mobiliário, utensílios que pertenceram à família, documentos, desenhos e até poesias escritas por Portinari.

Mas o grande destaque são as pinturas nas paredes de diversos ambientes. São cenas, principalmente de temática religiosa, criadas nas técnicas de afresco e têmpera. O afresco ainda é bem pouco difundido no Brasil e consiste em pintar sobre uma parede preparada com argamassa úmida, usando pigmento misturado somente com água. A mistura de água com tinta é absorvida pelo cimento e seca com ele. Quanto à têmpera, é uma técnica que utiliza como tinta uma mistura de água, substâncias oleosas, ovo (principalmente a gema, que funciona como aglutinante) e pigmento em pó. É um grande desafio para o artista por causa da secagem rápida.

Usando essas duas técnicas, Portinari pintou painéis como Santo Antonio Falando aos Peixes, São Francisco Pregando aos Pássaros, Fuga para o Egito, São João Batista, São Jorge e o Dragão, entre outras. A muitas dessas obras o pintor faz referência em cartas enviadas para amigos nas quais, não raro, ele os convidava para conhecer a casa de Brodowski.  É numa carta para Josias Leão e Ruth Leão, em 1937, que ele fala, entusiasmado, sobre suas primeiras experiências com afrescos, que seriam três pequenos trabalhos e uma “Fuga para o Egito”.

Em um anexo à casa de Portinari, está uma das maiores preciosidades desse museu: a Capela da Nonna. Lá, Portinari pintou várias imagens religiosas. Coloridas, elas têm como destaque o fato de seus rostos terem sido inspirados em membros da família. Assim, Santa Luzia, São Pedro, Nossa Senhora, Maria e São Francisco de Assis têm o rosto de irmãos, pai, mãe, filho e amigos do pintor. A capela foi um presente de Portinari para sua avó que, doente, não podia sair para ir à missa.

No ateliê do artista, o visitante poderá ter uma ideia de como era seu ambiente de trabalho quando estava em Brodowski. Ainda estão por lá tintas, pincéis, cavaletes e outros materiais de trabalho. O local é extremamente iluminado, já que Portinari fez uma claraboia para sempre ter a entrada de luz natural no ambiente.

A Igreja que fica em frente à casa também mereceu uma obra de Portinari. É um São Francisco de Assis com o rosto inspirado em José Moraes, amigo do artista.

Via Sacra

Já que você se deslocou de São Paulo até Brodowski, siga mais 16 quilômetros à frente e pare em Batatais. Na cidade de 53 mil habitantes, está uma verdadeira relíquia de Portinari. Na Igreja Matriz do Bom Jesus da Cana Verde, onde Portinari foi batizado, há 22 telas do pintor em exposição. São 14 estações da Via Sacra, 5 cenas bíblicas e quatro imagens de Nossa Senhora Aparecida. Se você for curioso e caminhar pelos arredores vai encontrar boas histórias das pessoas que acompanharam a chegada dessas imagens até a cidade.

Museu Casa de Portinari – Praça Candido Portinari, 298
Brodowski – SP- Tel.:(16) 3664-4284
O Museu funciona de Terça a Domingo, das 9h às 17h

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