Luxo canino ou tratamento terapêutico? 0 1923

Ofurô conquista espaço em pet shops do Tatuapé e mostra que os bichos estão cada vez mais próximos do ser humano

Talvez tenha sido o Big Brother, talvez a procura por novos tratamentos para o bem-estar. O que importa é que o ofurô não é mais um ilustre desconhecido de brasileiros de todos os níveis e classes sociais. Essa tina de madeira muito utilizada no Japão para banhos quentes de imersão é a marca registrada de uma técnica milenar para aliviar dores musculares e diminuir a tensão.

A popularização do ofurô é tamanha que até pet shops do Tatuapé oferecem para seus clientes de quatro patas a possibilidade de desfrutar de minutos de relaxamento dentro da tina de madeira. “O ofurô é indicado para animais estressados ou com desvio de musculatura (analgesia). Normalmente, associamos o banho de ofurô a outras terapias alternativas como a acupuntura, para deixar o animal bem relaxado, especialmente para aqueles com recomendações médicas”, descreve a veterinária responsável pelo pet shop Bill e Bull, Mariana Arrabal Craveiro. A média de banhos de ofurô realizados por mês nesse pet shop totaliza 15 sessões, o que é ainda um número muito pequeno quando comparado aos 1.200 banhos tradicionais realizados mensalmente no mesmo local.

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A proprietária da poodle Cindy, Karen Melro Cheganças, ficou um pouco desconfiada quando a veterinária indicou o ofurô para sua cachorrinha. Mas a artrite e a artrose da cadela de 15 anos faziam-na sofrer tanto de dores que a dona de Cindy resolveu apostar. “A primeira vez que ouvi falar no ofurô pensei que não ia funcionar. Na verdade, acabei fazendo por curiosidade. A cachorrinha estava tão ruim que eu tinha que ajudá-la de alguma maneira. Não acreditei como ela estava bem e animada ao ir buscá-la no pet shop depois da primeira sessão. Fiquei tão satisfeita que repetimos o banho outras 5 vezes”, relata Karen.

TERAPIA ANTI-STRESS

A relação cada vez mais próxima dos cães com seus donos fez surgir nas clínicas veterinárias um diagnóstico até então comum apenas para humanos: o stress. Ficar muito tempo sozinho em casa, sem passeios frequentes, ou fechado em um espaço pequeno são causas conhecidas do stress que podem levar a problemas como depressão, ansiedade ou agressividade. Nesses casos, o banho de ofurô é visto como auxiliar no tratamento psicológico. “O cão fica por volta de 15 minutos em um ambiente tranquilo e reservado – separado do banho e tosa tradicional – com musicoterapia e cromoterapia adaptada na banheira”, explica a terapeuta de animais do pet shop Bicho Solto, Rita Cristal. “Além de a água quente exalar um aroma agradável dos sais de banho, as cores estimulam a afetividade e a paz e ajudam a manter a pele e a pelagem hidratadas. Realizamos ainda massagens e Reike para relaxar ainda mais o animal”.

A depressão de Kika – uma yorkshire de 4 anos – foi amenizada com auxílio do ofurô e da cromoterapia. Pelo menos é isso que garante a empresária tatuapeense Edna Santos Costa. Uma temporada longe da família em um hotel para cães no último final de ano fez com que a cachorrinha ficasse apática, sem atender aos comandos da família, sinal de depressão. Edna seguiu a orientação da terapeuta do Bicho Solto e, mesmo sem convicção, optou pelo banho. “A Kika voltou outra do pet shop. Na verdade, ela voltou a ser ela mesma”, comemora Edna.

Edna amenizou a depressão de sua cachorrinha Kika levando-a para tomar banhos de ofurô

CÃO ESCALDADO TEM MEDO…

Como toda terapia alternativa e nova, o banho de ofurô ainda não é visto com bons olhos pela maioria dos veterinários, que acreditam que essa seja mais uma forma de humanizar os animais. Com um custo variando entre R$ 30 e R$ 45, o tratamento não é indicado para cães grandes ou agressivos, nem para aqueles com problemas de pele. Aliás, os problemas de pele são a preocupação número um quando pensamos em banhos e água quente nos animais de estimação. Mas os veterinários Mariana Craveiro e Cristopher Perez tratam de desmistificar o assunto. “Os cuidados que tomamos com a pelagem do animal são os mesmos que temos com o banho tradicional. A água não pode estar muito quente e a secagem e escovação dos pelos são feitas sempre depois de cada sessão”. A recomendação dos profissionais é, inclusive, que o banho de ofurô seja limitado a apenas uma vez por semana, assim como o tradicional. Realizar o banho também em horários de menor movimento no pet shop é uma forma de garantir a tranquilidade do animal e a eficiência da terapia. “Não adianta nada relaxar o animal e ao mesmo tempo ter o barulho de cão latindo, gato miando e do soprador”, observa a veterinária do Bill e Bull.

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