Vacina não é só para criança 0 1527

Passada a infância, doenças como sarampo, caxumba e varicela se manifestam de forma mais grave

Até 2010, o Brasil pretende eliminar a rubéola do País. Para realizar essa tarefa, será iniciada em agosto a vacinação em massa de 68 milhões de homens e mulheres de 20 e 39 anos, evitando surtos, como o ocorrido em 2007 que provocou 5.173 casos, em sua maioria (69%) em homens, acima dos 20 anos. Assim como o sarampo, a caxumba e a varicela, a rubéola é uma das doenças típicas da infância, que estão cada vez mais colocando em risco a saúde de adolescentes, jovens e adultos.

“Existe uma tendência de essas doenças se deslocarem para faixas etárias maiores, principalmente quando não são feitos os reforços recomendados. No Brasil, há na comunidade em geral a idéia de que vacina é coisa de criança. Por isso, passada a infância, as pessoas têm resistência a se vacinar”, explica a pediatra e infectologista Luíza Helena Falleiros, do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Somada à resistência, a desinformação agrava esse quadro. “Muitos adultos pensam que tomaram a vacina na infância e não tomaram”, observa a vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm), Isabella Ballalai. “Não é aceitável que as pessoas não se imunizem com as vacinas oferecidas gratuitamente na rede pública e fiquem vulneráveis a essas doenças”, complementa. 

Para se proteger contra rubéola, sarampo e caxumba, as pessoas devem tomar a vacina tríplice viral. Embora seja extremamente eficaz, a vacina confere imunidade contra o sarampo a cerca de 95% dos imunizados. “Por questões do próprio organismo, um pequeno percentual das pessoas vacinadas não produz anticorpos contra a doença e continua desprotegido”, explica Luíza Helena Falleiros.

À medida que a população cresce, aumenta o grupo de suscetíveis. Entretanto, boa parte dessas pessoas não contrai a doença porque a circulação do vírus foi drasticamente reduzida, graças às intensivas campanhas públicas de vacinação, realizadas a partir dos anos 90, quando o Ministério da Saúde traçou um plano agressivo para controlar a doença no País. De acordo com o Ministério, os últimos casos autóctones de sarampo foram registrados em 2000. A partir daí, os surtos são provocados por casos “importados” de países como Japão e Alemanha, onde o vírus continua em circulação. 

“Hoje, a maioria das crianças é vacinada contra o sarampo. Mas o que assusta e preocupa é a situação dos jovens e adultos. Tanto que o surto ocorrido em 2007, na Bahia, foi provocado por adultos”, explica Isabella Ballalai. Boa parte da população adulta é suscetível ao sarampo, porque a vacina só foi disponibilizada há cerca de 20 anos. Portanto, quem não contraiu a doença, ainda está vulnerável ao vírus.

FORMAS MAIS GRAVES

Doenças como sarampo, caxumba e varicela se manifestam de forma mais grave em jovens e adultos. Nessa faixa etária, o sarampo compromete o sistema imunológico do doente, facilitando o surgimento de complicações no sistema respiratório, principalmente a pneumonia, que pode ser causada pelo próprio vírus ou por uma superinfecção bacteriana.

Em maiores de 15 anos, a caxumba pode acometer outras glândulas, além das salivares. Quando acomete o pâncreas, causa dor abdominal aguda. Nos homens, o vírus pode provocar a inflamação dos testículos (orquite) e, nas mulheres, inflamação nos ovários (ooforite). “São comuns as manifestações neurológicas da doença, principalmente a meningite. A ocorrência de encefalite é mais rara”, explica a gerente-médica da Sanofi Pasteur, Lucia Bricks. 

O sarampo, a rubéola e a varicela são particularmente perigosos para as gestantes e seus bebês. O sarampo aumenta os riscos de aborto espontâneo, parto prematuro e nascimento de crianças com baixo peso. Já a rubéola, quando acomete mulheres nos primeiros meses da gestação, pode provocar malformações no feto  e causar surdez, cegueira, retardo mental e problemas cardíacos.

Apesar de rara em adultos, a varicela em gestantes provoca cerca de 500 a mil lesões no corpo – o dobro do que acontece na infância – e pode causar complicações, seguidas de problemas no sistema nervoso e nas vias respiratórias. O bebê, de mãe infectada no primeiro trimestre da gestação, pode nascer com malformações ou não sobreviver ao parto. A contaminação ocorrida a partir desse período, pode provocar varicela inaparente no bebê que, quando adulto, correrá o risco de desenvolver herpes zoster – doença que causa lesões na pele, principalmente no tronco, e intensa dor.

Embora não seja considerada doença típica da infância, a hepatite A geralmente se manifesta de forma mais grave em adultos. Uma das formas atípicas é a hepatite prolongada, que pode durar até seis meses. Há ainda a hepatite colestática, que perdura de dois a seis meses e provoca intensa coloração amarelada na pele e olhos, além de muita coceira e fezes brancas. De todas as formas atípicas, a mais grave é a hepatite fulminante, que provoca a falência do fígado e pode levar à morte 2% de adultos acima de 40 anos e 0,1% abaixo dessa idade. Na maioria desses casos, a morte pode ser evitada pelo transplante do fígado.

A coqueluche não costuma se manifestar de forma grave em adultos. Essa característica não deixa de ser um motivo de preocupação dos especialistas. Como esses doentes não apresentam os sintomas clássicos, eles contagiam as pessoas ao redor antes mesmo de saberem que estão infectados.

A situação é mais complicada quando a coqueluche atinge uma criança menor de dois anos. Nessa fase, podem ocorrer complicações como pneumonia e insuficiência respiratória aguda. O pequeno doente corre o risco de sofrer paradas respiratórias e pode ficar com seqüelas mentais e motoras por causa da falta de oxigenação do cérebro.

VACINAS

Tanto a rede pública como as clínicas particulares de vacinação oferecem a tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola). Já o segundo reforço contra coqueluche é oferecido na rede pública para crianças até seis anos. A partir dessa idade, a vacina só é encontrada em clínicas particulares. As vacinas contra varicela e hepatite A só estão disponíveis na rede privada. 

A Sanofi Pasteur, divisão de vacinas do grupo francês Sanofi-Aventis, possui um rol de imunizantes para evitar que adolescentes, jovens e adultos contraiam doenças típicas da infância. São as vacinas internacionalmente conhecidas como Trimovax (sarampo, caxumba e rubéola), Varicela Biken (varicela), Avaxim 160U (hepatite A) e Tetraxim (segundo reforço contra difteria, tétano, coqueluche e poliomielite).

Sarampo, caxumba e rubéola  a vacina é produzida com vírus atenuados (enfraquecidos) e pode ser tomada por qualquer pessoa a partir dos 12 meses, com exceção das gestantes, portadores de algumas doenças crônicas e imunodeprimidos (pessoas com deficiências no sistema imunológico);

Varicela – o imunizante dá proteção superior a 95% contra as formas graves e moderadas e superior a 85% contra qualquer forma da popular “catapora”. É recomendada para pessoas com mais de um ano de idade, desde que não sejam imunodeprimidos e façam uso de corticóides, imunossupressores, quimioterápicos e não apresentem hipersensibilidade aos componentes da vacina. Quem tem contato com os imunodeprimidos deve tomar a vacina para não infectar o doente;

Difteria, tétano, coqueluche e poliomielite – usada como segundo reforço para crianças entre 5 e 13 anos, provoca menos reações adversas que as vacinas de vírus inteiros. O componente contra coqueluche é acelular: usa apenas fragmentos da bactéria causadora da doença, que estimulam a produção de anticorpos. Os elementos geradores das reações adversas são descartados;

Hepatite A – Recentes estudos realizados no Brasil revelaram que 50% ou mais dos adolescentes, residentes em grandes cidades, não têm imunidade contra hepatite A. A vacina protege maiores de 15 anos contra essa doença, com dose inicial e outra de reforço.

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