No fim do século XV, as ornamentações encontradas em escavações realizadas em grutas romanas, eram designadas “grotescco” ou “La grotescca”. Esses ornamentos de origem “bárbara”, que representavam seres híbridos, escandalizaram o gosto clássico dos críticos de arte, mas não impediu que o grotesco, ou seja, o excêntrico virasse moda.
Partindo do princípio de ateliês do século XVIII, inspirados na arte grotesca, em 2003, a artista plástica Cris Miura e os formandos da Escola Panamericana de Arte, Vicente Conte e Júlio Loureiro, fundaram o Ateliê Nobre Sucata, localizado na Mooca. “É muito comum os profissionais dessa área se perderem no começo da carreira. Encontramos aqui um ambiente agradável, onde falamos a mesma língua e, principalmente, um incentiva o trabalho do outro”, explica Conte.
Com diversas formações ao longo dos anos, além dos fundadores, atualmente, Márcio Caetano integra o GAPIS, Grupo dos Artistas Plásticos Independentes, do Ateliê Nobre Sucata. “Cada um tem um estilo diferenciado, mas sou o mais experimental, gosto de fazer tudo que causa estranheza e conscientiza sobre o caos da natureza, pois suspende as diferenças entre as espécies pela mistura do animalesco e do humano”, conta.
Loureiro tem técnicas antigas, mas inspira-se em temas contemporâneos; Caetano é menos acadêmico, mas detalhista na projeção do desenho; Cris é a mais clássica e faz trabalhos mais decorativos. Em comum, todos trabalham com pintura contemporânea, misturando técnicas, temas e elementos diversos. Já, o trabalho de Conte recicla componentes inusitados como, cascos de árvore, televisões, rádios, pneus, cadeiras, portas e janelas. Para ele, depois da invenção da máquina fotográfica que, de certa forma, dispensa a pintura de paisagens, o conceito de arte mudou, ganhou muito mais liberdade, pela fuga da estética e dos padrões pré-conceituais.
Com esses suportes cria instalações utilizando-se de interferências com tinta e outros objetos que acabam criando uma conexão entre si. “De modo geral, não tenho um tema específico para inspiração e não gosto de explicar o sentido de muitas coisas que eu faço, pois acho interessante que cada um faça uma análise particular, assim sigo a linha do abstrato e do experimental”, acrescenta.
Conte trabalha também com pintura, explorando o expressionismo bruto. “Fiz alguns quadros na linha “Trindade”, os personagens centrais são três corpos conectados integralmente entre si. Nestes, já puxo para algo meio religioso, como soldados romanos, o coração de cristo, mas deixo sempre essa abertura para interpretação pessoal”.
O Ateliê Nobre Sucata é um local de reflexão, troca de idéias e experiências, produção artística e liberdade. O grupo abre as portas para outros artistas integrarem-se e além das vernissages, realiza exposições com trabalhos de outros profissionais. “Não importa o estilo e vertente, temos um espaço independente, sem fins lucrativos que visa somente a interação de indivíduos apaixonados por arte”, conclui Conte.
O espaço abre suas portas apenas quando são realizados eventos, no resto do tempo é usado como oficina de criação. Portanto, para conhecer o trabalho de Vicente Conte e do Ateliê Nobre Sucata, é necessário agendar um horário.
Vicente Conte
Tel.: 9939-8189
Ateliê Nobre Sucata
www.atelienobresucata.com
atelienobresucata@gmail.com