Um jardim em São Paulo 0 4163

Empresário que começou aos sete anos vendendo pipas, aposta que hostel no Tatuapé será um sucesso

São Paulo é uma cidade áspera. Prédios, asfalto, concreto, carros, corre-corre. É a cidade que não para e não tem tempo pra respirar. Por isso, quem entra no Hostel Jardim São Paulo costuma ficar maravilhado com o jardim que encontra. Não se trata de nenhuma obra de paisagista famoso, mas sim de um espaço tão agradável e aconchegante que te convida para ficar por lá.

Michell Almeida, empresário de 32 anos, inaugurou o hostel há três anos na Rua Visconde de Itaboraí. Queria que fosse um jardim dentro de São Paulo e por isso escolheu o nome “Jardim São Paulo”. E fez questão de manter uma área externa grande e descontraída, onde há um gramado, um pé de louro, uma pitangueira, uma goiabeira, erva-cidreira, laranjeira e até um pé de café. “Minha maior felicidade é quando os hóspedes chegam aqui e esboçam um sorriso ou um ‘uau’”, diz.

Parece estranho alguém querer montar um hostel em um bairro sem grande interesse turístico e onde não há tradição nesse tipo de empreendimento. Mas também parece que está dando certo. Vindo de Pirituba, onde cresceu e passou a maior parte da vida, Michell escolheu o Tatuapé por ser um bairro estratégico: está perto do aeroporto internacional de Guarulhos e de duas estações de metrô, além de oferecer fácil acesso a várias rodovias. Uma opção diferente para um mercado que, em São Paulo, está concentrado nas zonas sul e oeste.

Os hóspedes vêm do mundo todo, mas a maioria é de europeus, latino-americanos e brasileiros de outras cidades e estados. “O brasileiro vem pra São Paulo para ir a shows, prestar concurso, fazer uma pós ou uma especialização. Já os estrangeiros vêm para turismo ou negócios”, conta. Na Copa do Mundo, ele teve um bom movimento, mas bem menos do que esperava. Eventos como Lolapalooza são certamente bem melhores e mais lucrativos.

O hostel é o segundo empreendimento oficial de Michell. O primeiro foi uma empresa que trabalhava com polietileno e, infelizmente, foi à bancarrota. “Todo dinheiro que eu tinha coloquei ali. Perdi, chorei muito, mas serviu de experiência”, analisa. Com DNA de empreendedor, Michell começou cedo, aos sete anos, vendendo pipa para as outras crianças do bairro em que morava. “Eu empinava e sempre me cortavam. Aí eu comprava outra pipa e via vários garotos comprando também. Então, comecei a comprar o material e fazer as pipas. Fazia duas pra mim e vendia o restante. Chegou uma hora em que comecei a vender de caixa. Eu ficava até às 3 horas da manhã fazendo pipa. Fiquei nessa até uns 13 anos”.

Em uma das paredes, Michell desenhou um mapa do Tatuapé
No quintal, há uma área de descanso para os hóspedes

Depois, ele começou a trabalhar como frentista e seguiu a profissão até se tornar gerente. Um dia, perguntou a um cliente do posto, que era dono de um hostel na região da Praça da Árvore, se não havia uma vaga por lá. Conseguiu. Largou o emprego fixo para trabalhar como folguista, aprendeu a falar inglês e espanhol sozinho e chegou a gerente. Depois, passou por outros hostels até decidir que era hora de abrir o seu próprio negócio na área de hospedagem. “Investi o dinheiro que eu tinha, fiz empréstimo e coloquei o negócio na rua porque eu tinha 100% de certeza que ia dar certo. A mão de obra para reformar a casa e fazer o que precisava fui eu, minha mãe, meu pai e alguns amigos. Todo mundo colocou a mão na massa”. E se não desse certo? “Eu faria outra coisa”, diz.

Michell ainda está na fase de recuperar o investimento, mas já consegue sobreviver do negócio que cuida com tanto cuidado. Tem confiança suficiente para saber que vai dar certo. Tanto que já planeja abrir um novo hostel em São Paulo e outro no México.

O que é hostel?

O hostel é um tipo de hospedagem muito comum na Europa, onde tem mais de 100 anos de história. Tem preços mais baratos que o de hotéis e, normalmente, oferece quartos coletivos, com beliches. Há cozinha e lavanderia que os hóspedes podem usar. É muito procurado por mochileiros, estudantes e intercambistas. Uma característica marcante do hostel é a troca de experiência entre os hóspedes. Normalmente, são pessoas que viajam bastante, gostam de conhecer pessoas novas e outras culturas e não fazem questão dos mimos comuns da rede hoteleira tradicional.

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