Os pais e o parto 0 3800

Homens não geram os filhos e não precisam passar pela dor do parto. Na hora do nascimento, não são eles que terão de fazer força para expulsar o bebê ou passar por uma cesárea. Ainda assim, eles têm um papel importante no momento do parto. São pais, afinal. “A mãe é o sustento do bebê e o pai é o sustento da mãe. Se ele for um parceiro de verdade, o processo tende a ser muito mais fácil”, diz a psicóloga Cláudia Bonfim Vila.

Muitos homens se preocupam com o fato de as esposas estarem com dor e eles não poderem amenizá-la. Mas, nessa hora, é preciso aceitar o papel de cada um e executar bem o que lhe cabe. “A parte emocional é o pilar dessa relação da mãe, do bebê e do pai. A mãe tem que estar muito bem amparada emocionalmente para ter uma gestação tranquila e chegar a um trabalho de parto tranquilo. E o pai pode oferecer esse suporte”, explica a ginecologista e obstetra Camila de Morais Escudeiro, parteira da Commadre, casa de apoio à gestante no Tatuapé.

Se for um parto natural, o cuidado, carinho, atenção, os afagos, abraços e beijos vão estimular a Ocitocina, hormônio que ajuda nas contrações uterinas e na dilatação. Ou seja, os pais podem colaborar muito para um parto mais tranquilo e fluido. Se a opção (ou necessidade) for uma cesárea, o marido será o elo de segurança entre a mulher e a equipe médica. “No hospital, ela fica sem saber o que está acontecendo. O homem é a pessoa em quem ela confia, com quem pode conversar.

Ele entra como suporte emocional muito importante”, diz Camila. Além disso, o pai é o pai, ou seja, é parte daquela criança e tem o direito de vê-la nascer tanto quanto a mãe. O Brasil tem, inclusive, uma lei que diz que a mulher pode ter um acompanhante na sala de parto à sua escolha.

Para não se desesperar e ficar muito tenso, os pais devem acompanhar o pré-natal e tirar todas as suas dúvidas sobre o parto. Informação é uma grande aliada neste momento. Assim, na hora do nascimento haverá espaço apenas para a magia e o encantamento!

Maratona

Uma maratona. É assim que Rafael Ferreira, 35, descreve o trabalho de parto da esposa, Nathaly Mattar, 28, que durou 20 horas. Eles escolheram o parto domiciliar e Rafael precisou trabalhar duro. “Fiquei à disposição daquele momento. Isso me ajudou a entender o meu papel, que era um parceiro ativo, e não coadjuvante. O bebê não estava na minha barriga, não eram minhas as contrações, mas eu tinha o meu papel e se eu não o cumprisse, alguma coisa poderia não dar certo”. Desde ajudar a preparar a casa para aquele momento até o último minuto, quando Inácio, hoje com um ano, finalmente nasceu, o pai teve a sua função. E aprendeu cada uma delas ali na hora. No começo, Nathaly não queria que o marido a tocasse. “Foi difícil pra mim porque sempre achei que ia ser o cara que fica ao lado, dá carinho”. Depois, já mais rendida e cansada, com contrações a cada 3 minutos, ela se deitou e aceitou os afagos do marido, que a ajudavam a dormir entre uma contração e outra. No final do trabalho, quando as contrações eram mais intensas e Inácio ia nascer, ele foi a pessoa que ficou gritando palavras de incentivo a ajudando a dar força quando estas já estavam quase exauridas. “Só consegui porque ele estava junto. Quando pensei em desistir e ir para o hospital, foi ele que me incentivou, falando para eu lembrar do meu Yoga, dizendo que já estava no final. Nessa hora eu tive certeza que ia conseguir”, conta Nathaly. E, sim, conseguiu. “Na hora do nascimento eu estava atrás dela. Quando a parteira pegou o bebê e levantou bem na nossa frente, foi uma aparição. É uma sensação de milagre que eu gostaria de sentir de novo”, diz. “Foi o melhor dia da minha vida”, completa.

Frustração e alegria

Aos 22 anos, Bruno Souza foi pai pela primeira vez. E gostou do ofício. Sua esposa, Jéssica Rodrigues, está grávida de Gael, o terceiro filho do casal. E, com certeza, o paizão estará lá para segurar nas mãos da mamãe e fazer tudo o que for possível. A frustração de não ter assistido ao nascimento da primeira filha, Manuela, hoje com 7 anos, já foi superada. Na época, Jéssica tinha apenas 20 anos e precisou fazer uma cesárea de emergência. Tensão, medo e ansiedade se misturaram e ela pediu para ser acompanhada pela mãe na sala de parto. “Fiquei um pouco frustrado, mas entendi. A mãe dela conhecia o médico e teve quatro filhos. Então, acho que naquele momento foi melhor pra ela”, diz Bruno, que viu a primeira filha pelo vidro da sala de parto. Na vez de Lorena, tudo foi diferente. “Foi muito especial”, diz. “Eu achei que fosse ficar com medo, mas a emoção é tão grande que você esquece o medo”, completa. Ele conta que ficou o tempo todo de mãos dadas com a esposa e só a deixou no momento em que a Lorena estava sendo retirada da barriga, para poder vê-la pela primeira vez. “Foi incrível. Se pudesse, eu teria tirado ela lá de dentro”. Para os pais que sentem medo de assistir ao parto, ele deixa a dica de quem já viveu as duas situações. “Eu fiquei mais ansioso quando não assisti, justamente por ficar do lado de fora e não saber o que estava acontecendo”.

Felicidade

“Lu, o cabelo é preto!”. Essa foi a frase que Wagner Lúcio, 36, falou para a esposa, Luciana Murakami, 38, já dentro da sala de parto no dia do nascimento de Alice, 5. “Foi para incentivá-la”, relembra. O trabalho de parto começou em casa, logo que as primeiras dores vieram. Foram algumas horas contando contrações e fazendo de tudo para deixar a esposa o mais confortável possível. “O homem não tem a gestação em si, mas acho que ele consegue oferecer segurança. O que eu tentava fazer era deixar aquele momento o mais confortável possível”, diz. O período em que ficaram em casa, esperando o trabalho de parto ficar mais intenso, foi decorrência de toda a preparação que fizeram para esse momento e a base para que os momentos finais, já no hospital, fossem mais tranquilos. “Retardamos ao máximo a ida ao hospital e acho que isso teve a ver com a minha presença”, diz Wagner. “O momento mais emocionante da minha vida foi quando vi a cabecinha dela aparecendo. Foi tão gostoso. Acho que aquele momento coroou tudo. E essa felicidade a gente tem até hoje. É um momento mágico, único, que eu não perderia por nada”.

Não quero assistir. E agora?

Hoje em dia, é muito mais comum ver os homens dentro da sala de parto do que fora. Ainda assim, há aqueles que preferem esperar no corredor. Para eles, o momento do parto é algo absolutamente amedrontador. O que a mãe deve fazer? Depende muito de cada casal. O importante é que a decisão seja consciente e, principalmente, aceita pelos dois. Porque o nascimento é um momento tão importante e cheio de sensibilidade que uma briga ou crise não ajudaria em nada. Se o pai não tem coragem de assistir precisa deixar isso claro. Essa não é uma decisão que o fará ‘menos’ pai. Afinal, o que não falta depois do nascimento é oportunidade para o pai cumprir o seu papel e amar muito o filho!

Márcio Eduardo dos Santos não assistiu ao parto de Gabriel, 14. Sua esposa, Priscila Miranda, teve uma gestação difícil e precisou passar quase os nove meses no hospital por causa de problemas gástricos. Teve, inclusive, que tomar remédios que poderiam ter afetado o desenvolvimento do bebê. “Isso causou um pouco de pânico em todo mundo. Quando ele me perguntou o que eu achava, disse que gostaria de tê-lo ao meu lado, mas, se fosse para me deixar mais nervosa, poderia ser pior. Deixei para ele decidir e disse que entenderia qualquer que fosse a decisão”, conta Priscila. “Eu não sabia qual seria a minha reação. Por ela ter dito que eu poderia deixá-la mais nervosa, optei por não entrar”, conta o pai. Esperar do lado de fora não o livrou da ansiedade. “Fiquei ali na espera, tentando me distrair vendo os outros bebês que estavam nascendo, mas foi difícil. Estava muito nervoso”. A calma só veio quando viu o filho pelo vidro do berçário. Mas logo a tensão continuou porque a criança teve que ir para o oxigênio e Priscila não voltava para o quarto. Ela teve uma queda de pressão e desmaiou logo após o nascimento. Bem, essa história já tem 14 anos e todos estão ótimos… “Não me arrependo da decisão porque sei que poderia ter causado um problema maior, ter ficado mais tenso e passado este nervoso para a minha esposa”.

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