O todo poderoso do estilo 0 3567

Ricardo Almeida traz para o Anália Franco a elegância que o consagrou como estilista das celebridades e do presidente Lula

Se um dia você for conversar com o estilista Ricardo Almeida, não se espante se o papo não for olho no olho. “Homem da criatividade”, como ele mesmo se define, Ricardo não consegue se concentrar se tiver que ficar olhando para alguém. “Se você mexer no nariz já embaralha toda a minha cabeça”, explica. “Quem lida com área de criação não escuta, enxerga. Muitas vezes, quando as pessoas falam comigo eu não olho para elas, porque estou enxergando o que a pessoa está falando. Eu preciso ficar olhando fixo no vazio, senão eu saio de concentração e começo a me perder”.

Sinônimo de elegância, Ricardo criou há mais de 20 anos uma grife que leva seu nome e é referência quando o assunto é moda masculina. Ternos bem cortados e confeccionados com o nobre tecido italiano são o mínimo que ele oferece a seus clientes. Não à toa, suas roupas vestem pessoas importantes e poderosas como o presidente da República. O estilista ficou encarregado de criar os ternos usados por Lula durante a campanha de 2002 e os primeiros anos do governo. Celebridades da televisão também usam roupas Ricardo Almeida. Rodrigo Santoro, Murilo Rosa, Júnior Lima e Paulo Vilhena são apenas alguns nomes.

Frequentador da alta sociedade paulistana, do tipo que joga tênis e está sempre presente nas festas e eventos mais badalados, Ricardo incluiu, recentemente, a região Leste da cidade no seu plano de expansão. Abriu uma loja no Shopping Anália Franco em abril, ao mesmo tempo em que inaugurava a loja de Brasília, promessa de atendimento aos políticos mais influentes deste País. Mas o que se vende nas lojas é apenas uma parte do que Ricardo Almeida faz. O coração do seu trabalho está no ateliê, instalado em uma ampla e confortável casa na Vila Nova Conceição. É lá que ele cria e começa a desenvolver suas peças, feitas sob medida. Foi lá, também, no bar instalado no subsolo do ateliê (onde há mesa de sinuca, equipamento de som e iluminação para quando acontecem algumas festas), que ele falou  com a Revista do Tatuapé sobre a paixão por motocicletas, o trabalho criativo, a moda e a elegância masculina, entre outros assuntos. Confira os principais trechos da entrevista.

Fábio Assunção, Junior Lima e Luigi Barricelli são algumas da celebridades que já desfilaram para Ricardo Almeida

Motocicletas

“Meu pai era dono da Casa Almeida Irmãos, uma loja de cama e mesa, e com 11 anos eu ia para lá fazer pacotes. Com 16 anos eu já ficava o tempo todo por lá. Aos 18, comecei a correr de motocicleta e saí da loja. Eu comprava a moto, reformava, vendia e gastava o dinheiro nas corridas. Um dia, fui atrás de um patrocinador que era uma confecção e acabei arrumando um emprego. Comecei como representante. Depois de um tempo fui para outra empresa e perguntei ao dono se eu podia começar a desenvolver os modelos e comprar os tecidos. Eu sabia que se fizesse uns modelos diferentes e usasse tecidos mais legais, ia vender mais e ganhar mais”.

Lula

“Fui contratado pelo Duda Mendonça para fazer o figurino da campanha de 2002 e as roupas de quando o presidente assumiu. Depois me afastei. Inclusive, até hoje Lula usa roupas da campanha, o que eu acho ótimo. É bom você ver que é uma pessoa que não está preocupada em usar toda hora uma roupa nova”.

Clientes celebridades

“Essa história começou quando fui fazer figurino de novela. A primeira vez que fiz foi há uns 20 anos. Era O Sorriso do Lagarto e eu fazia o figurino do Raul Cortez, que já era conhecido da minha família e ficou muito meu amigo. A partir daí comecei a ser procurado pelos atores também, para fazer suas roupas pessoais”.

Criação

“Acho que a parte de criação é algo nato das pessoas. Você nasce com isso e depois aperfeiçoa com uma faculdade ou um curso. Como na minha época não tinha faculdade ou curso, aprendi com os próprios profissionais. O modelista da confecção em que eu trabalhava foi quem me ensinou a fazer molde. Também aprendi lendo. Mas a parte de estilo nunca estudei”.

Execução

“Crio os modelos e tenho uma assistente que me ajuda. Ela desenha e eu faço só a ficha técnica. Um desenho é muito subjetivo, então, se eu fizer um esboço não sei o tamanho ou a altura do bolso, por exemplo. E quando você monta a ficha técnica sabe tudo – altura, profundidade, etc. – e isso é muito mais importante. Eu, inclusive, já faço direto no molde, sem desenho. E faço o molde no meu computador”.

Anália Franco

“Esse pedaço da região Leste é muito tradicional. Os imigrantes italianos que vieram para São Paulo, por exemplo, ganharam muito dinheiro e não saem da Mooca. Tenho clientes muito poderosos que vivem na Mooca e no Tatuapé. Eu já tinha esse projeto de expansão da marca e vejo que essa região está em um ótimo momento. Por isso resolvi abrir a loja”.

Matéria-prima

“Me preocupo em trabalhar com a melhor matéria-prima. As camisas polo, fiz no Peru porque o algodão pima está lá e é um dos melhores do mundo, ao lado do egípcio. Na parte de alfaiataria,  90% dos tecidos que usamos são italianos, que é o top em modernidade e acabamento”.

Futuro

“Meu projeto é montar uma faculdade de moda e design. A meu ver, todas as faculdades que existem hoje teriam que melhorar muito. E eu sei como fazer e vou fazer. Na minha empresa, cuido da parte administrativa, de criação e modelagem, além das lojas e da fábrica. Então, sei como funcionam todas as etapas. Agora, você pega o dono de uma faculdade e ele não sabe o que é moda. Tem até uma história curiosa, de uma faculdade na qual durante a aula de modelagem os alunos ficavam moldando vaso de argila. Uma coisa que não tem nada a ver com moda”.

Moda Masculina

“A ideia masculina é um pouco diferente da feminina. Mulher tem essa coisa de ‘vou usar essa roupa, abafar e depois não uso mais’. O homem quer uma roupa que dure no mínimo três anos e não uma peça que vai usar um tempo e tchau. Eu mesmo, que trabalho com moda, uso muita roupa que tenho há quatro, cinco ou seis anos”.

Ousadia

“O homem pode inovar na proporção, na cor e nos detalhes. O executivo, por exemplo, pode usar uma cor de gravata mais ousada ou uma estampa diferente em um detalhe. Só com isso ele já vai se diferenciar. E tem a proporção, que é superimportante na roupa masculina. Uma calça mais larga, por exemplo, é mais careta. Já uma roupa mais ajustada, sem ser muito agarrada, é mais moderna e elegante”.

Elegância

“Elegância é você saber como estar vestido e posicionado no lugar em que está indo. Não adianta querer ir à favela fazer um bem social e chegar lá de Ferrari, com ouro e cheio de joias que você vai estar deselegante. Também não dá para tomar água de coco na areia de terno e gravata. As pessoas confundem a elegância com o fato de você estar com uma roupa ostentadora ou não. Ser elegante é estar adequado para o lugar que você está indo, tanto na roupa quanto na atitude”.

Filhos

Tenho cinco filhos. O mais velho tem 29 anos e o mais novo cinco. Faço cada roupa que eles adoram! Principalmente o mais novo, o Arthur. Se eu chego com uma roupa nova ele diz: “pai, essa roupa é nova, né?”. Na mesma hora ele mata. Outro dia ele falou “pai, eu quero um blazer xadrez”. Então, eu vou fazer o tal blazer xadrez.

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