A simplicidade de Paola Oliveira 0 9095

Nascida na Penha, a atriz fala com orgulho da região onde foi criada e passou mais de 20 anos de sua vida

Quem mora na Zona Leste sabe bem o que é ouvir comentários do tipo “mas você mora aí?”. Pois saiba que até a estrela global Paola Oliveira, 28, se deparou várias vezes com essa frase. “Quando eu comecei a fazer propaganda tinha muito trabalho nos Jardins, Brooklin, Santo Amaro. E sempre que alguém me perguntava onde eu morava, eu dizia que era perto do Cangaíba e ouvia comentários do tipo ‘é interior?’ Então, eu explicava a localização aos poucos. Começava perguntando: você conhece o Tatuapé? E o Carrão? Aí ia chegando mais perto”. Esse cuidado estava longe de significar vergonha das raízes. Muito pelo contrário. Criada entre as ladeiras da Penha, o Carrão e o Tatuapé, Paola, como boa Corinthiana que é, sente orgulho do passado. “Eu sou muito feliz pela história que tenho. A Zona Leste é onde eu me criei e me formei, não tem como esquecer. O depois é fruto do trabalho e é outra história”.

Hoje estrela da Rede Globo, rosto fácil em campanhas publicitárias e moradora do Rio de Janeiro, a menina com nome de princesa (Caroline Paola) ainda se considera uma autêntica paulistana. Há cinco anos morando na Cidade Maravilhosa, é aqui pelos nossos lados que ela encontra o ambiente mais afetivo e aconchegante. Tanto que passou um ano vindo para a casa dos pais todos os finais de semana. “A verdade é que eu não queria mudar”, confessa. Mas para conseguir êxito na carreira, o Rio era (e ainda é) uma necessidade. “O engraçado é que eu ainda sou turista no Rio. Demorei um ano para conhecer o Cristo Redentor e até hoje vou a pontos turísticos da cidade”.

Já quando o assunto é São Paulo, e principalmente os bairros em que viveu, ela fala com desenvoltura. “Essa região mudou muito, mas eu conheço muito bem. Sempre me virei em São Paulo. Andava de ônibus, de metrô, ia aos bares do Tatuapé”. Claro que hoje ela não consegue andar por aí sem ser reconhecida, mas continua se considerando uma típica moradora da Zona Leste. “Acho que a primeira coisa que temos como referência são os pais e a família. E os meus pais e a minha família ainda moram nessa região. Eu sei que existe um preconceito e uma discriminação com a Zona Leste em São Paulo e posso dizer que eles não são reais e nem fator para você julgar uma pessoa”.

Sua própria história é exemplo disso. Quem a vê hoje nas campanhas publicitárias e como protagonista de novela da Rede Globo, talvez não saiba que por trás há uma sólida formação moral, totalmente construída por intermédio de uma família estruturada e muito simples. Paola estudou na escola estadual Ascendino Reis, fez faculdade de fisioterapia na Unicsul e estágio no Hospital de Guaianazes. Conhece bem a realidade de quem precisa se esforçar para chegar às conquistas.

E se há um ponto que ela considera importante nesse processo é, justamente, a estrutura familiar. Paola valoriza ao extremo o que lhe foi oferecido pelo pai, um militar reformado, e pela mãe, uma profissional da área da saúde. Quando a vemos em cena na televisão, interpretando com segurança mocinhas e vilãs, imaginamos que tenha sido sempre assim, desde o começo da carreira. Mas a verdade é que, como acontece com a maioria das pessoas, ela teve momentos de insegurança e precisou de muito pé no chão. “Quando eu entrei na faculdade e resolvi começar a fazer propaganda, fui um pouco sem confiança porque não sabia como era. Fui descobrindo aos poucos. Passei por muitos testes e a família sempre ficou ao meu lado. O meu pai também estava receoso. E essa área parece uma caixinha mágica: você só sabe como é participando. A minha mãe já era mais apoiadora, ia junto nos testes. Mas depois, quando perceberam que era uma coisa séria e podia ser uma profissão, só tive muito apoio”.

Se Paola não seguiu a carreira de fisioterapeuta, não foi em busca de fama e glamour. “Quando eu entrei na faculdade, queria ganhar um dinheiro e comecei a fazer comerciais. E aí as coisas foram acontecendo, oportunidades e testes apareceram. Mas eu tenho certeza que se tivesse seguido a fisioterapia seria feliz também, porque acho que posso ser boa em tudo que faço”.

FAMA X TRABALHO

Em uma noite fria do começo do outono, Paola circulava pela badalada rua Itapura. Vestida discretamente em uma calça jeans, camiseta branca e maquiagem básica, ela foi prestigiar uma apresentação da banda do irmão mais velho e aproveitou para comemorar o aniversário. O local não estava cheio, mas aos poucos as pessoas foram reconhecendo a atriz da Globo que, entre um papo e outro com os amigos e a família, parava para uma foto e um autógrafo. “Eu faço isso com o maior prazer e fico lisonjeada que as pessoas gostem de mim e do meu trabalho. Sempre que eu puder, vou tirar foto e dar autógrafo. Acho que ainda está muito cedo para dizer que estou cansada disso”.

O que cansa mesmo é a rotina de trabalho a que um ator é submetido. Embora para nós, espectadores, a imagem que fique é a de uma profissão muito glamourosa e longe do estresse, Paola garante que, na prática, as coisas não funcionam sempre assim. “Gravar uma novela é super desgastante e trabalhoso. Se a novela fica três meses em cartaz, você trabalha durante nove meses sem horários. Isso inclui preparação, viagem, texto, entrevista e muitas outras coisas. Eu já cheguei a ficar em estúdio das seis às duas da manhã. Na verdade, você não consegue ter muito controle dos horários e compromissos”, conta. “É engraçado porque muita gente pergunta o que eu gosto de fazer à noite, e eu sempre digo que não dá para ir a lugar nenhum. Você fica tão cansado que chega em casa e quer não fazer nada”, completa.

Paola costuma dizer que, muitas vezes, o ator trabalha durante 24 horas. “Nessa profissão você é sempre muito observado e as pessoas querem te ver bonita. Então, é preciso ter um cuidado especial com a aparência o tempo todo. Não dá para sair na rua do mesmo jeito que eu saía antes, quando morava em São Paulo”. Apesar do assédio e do reconhecimento, ela é assertiva quando diz que é impossível, algum dia, essa região da cidade deixar de significar algo para ela. “Esse é o lugar que eu conheço bem e do qual eu tenho lembranças. Vai ser impossível isso deixar de acontecer.

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