Primeiros sons 0 6286

Bebê que nasceu com surdez bilateral profunda ouviu pela primeira vez depois da colocação de um dispositivo que leva os estímulos sonoros até o cérebro

Alegria, alívio e muita emoção. Foram essas as sensações vividas pela família do bebê Diego Martins Silva, após a realização da cirurgia para a implantação de seus ouvidos biônicos. Ele nasceu com uma deficiência auditiva que, felizmente, foi detectada no seu primeiro mês de vida. “Recebi muitas visitas no dia em que o Diego nasceu. Fiquei muito feliz e orgulhosa de apresentá-lo para todos nossos amigos e familiares. Mas depois de tanta agitação, pude observar que ele não se assustou, nem mostrou inquietação com o barulho alto, por isso pedi o teste da orelhinha”, conta a mãe Juliana Martins Silva.

O resultado do exame apontou uma falha na audição de Diego. Juliana e o marido, Fabiano, que moram na Penha, foram direcionados a fazer um exame específico chamado Bera e a procurar orientação no Hospital das Clínicas e na Santa Casa de São Paulo. Com a notícia em mãos, os pais deram andamento ao tratamento do bebê, então com 45 dias de vida. “Depois que foi detectado o grau de surdez, o Diego usou o aparelho auditivo convencional por seis meses, até ter certeza que não seria suficiente para atender suas necessidades. Em seguida, fizemos uma avaliação detalhada para saber se ele era um candidato ou não ao Implante Coclear”, aponta a fonoaudióloga Mayte Forte, responsável pela ativação e funcionamento do implante, pelo qual eletrodos são inseridos no ouvido e permitem que a criança comece a detectar sons.

Após cumprir todas as fases pré-implantação, Diego, uma das crianças mais novas do País a serem submetidas ao implante nos dois ouvidos, foi encaminhado para a cirurgia. “Entregamos nosso filho na porta do centro cirúrgico às 10 horas e só pudemos vê-lo novamente às 17 horas. A família toda passou momentos de ansiedade e tristeza, seguida de alegria. Tivemos que entrar com uma liminar para o convênio aprovar a operação, que foi realizada em fevereiro deste ano (quando ele tinha oito meses)”, diz Juliana. “Não há nada no mundo que pague a alegria de saber que ele aprenderá a falar”, completa.

Após a cicatrização, que durou um mês, o aparelho foi ativado. “Inicialmente, para ele não se assustar, abafamos os sons. Agora, ele retornará de tempo em tempo para aumentarmos a qualidade do som, de acordo com as respostas do próprio Diego, e a necessidade de cada eletrodo, que varia a cada caso”, aponta Mayte.

TERAPIA FONOAUDIOLÓGICA

O trabalho fonoaudiológico, realizado de uma a duas vezes por semana por Sonia Iervolino, é imprescindível, pois fará com que o som que Diego ouve não seja apenas um ruído, mas vire informação e tenha significado. “A terapia envolve atividades de escuta estruturadas, respeitando o desenvolvimento do paciente. O implante possibilita que a criança detecte os sons, mas discriminar o que é ouvido requer experiência e treinamento. Inicialmente, os pais participam das terapias e são orientados para que percebam situações diárias ricas em estimulação de audição e linguagem. É na família que a criança tem as maiores oportunidades de aprendizagem”, define a fonoaudióloga. Segunda ela, é difícil estipular um tempo para alcançar os objetivos traçados. “No caso do Diego, temos muitos aspectos a favor de uma evolução satisfatória, pois apesar da pouca idade, ele mostra interesse pela comunicação, vocaliza muito e usa essa vocalização para chamar a atenção. Ele está bem adaptado ao implante, tem uma família comprometida, frequenta uma escola com profissionais interessados e com muita disposição para colaborar no processo de estimulação”, acrescenta.

E foi na escola que a família de Diego encontrou outro suporte importante para o tratamento. “Antes mesmo de ele fazer a cirurgia, eu e o Fabiano percorremos toda a região para encontrar uma boa escola. E ficamos muito surpresos com tanto preconceito e desinteresse por parte dos professores, diretores e até pedagogos. Quando já estava sem esperanças, bati na porta da Escola Infantil Magia das Cores e fui recebida de uma forma muita amável e com palavras de apoio. A tia Rosa e as outras professoras me passaram confiança e demonstraram interesse pelo meu filho, o que era o principal pra mim”, emociona-se Juliana.

Hoje, a escola tem participação fundamental no desenvolvimento do garoto. O bebê chega por volta de 8h30, come uma fruta, ouve um pouco de música e dorme até a hora do almoço. Entre as horas de sono, o banho e as refeições, faz exercícios de estimulação. “Nossas babás foram orientadas pela fonoaudióloga sobre como devem lidar com o aparelho, além de obterem algumas informações a respeito de suas limitações”, explica a diretora pedagógica Carla Bilachi. “Desenvolvemos brincadeiras que são importantes para o aprendizado de todas as crianças. O Diego precisa de estímulos constantes de linguagem, além de ouvir explicações sobre o que está acontecendo ao seu redor. Ele crescerá junto aos outros amiguinhos, que, certamente, conviverão com as diferenças sem preconceitos”, completa. Essa, aliás, já é uma lição que Diego ensina a todas as pessoas que convivem com ele e não se cansam de se emocionar com sua evolução e coragem.

FUNCIONAMENTO DO IMPLANTE COCLEAR

Mecanismo da audição normal – Os sons alcançam o ouvido externo, passam pelo conduto auditivo externo (canal do ouvido) e atingem o tímpano, que vibra. Essas vibrações chegam até três pequenos ossos do ouvido médio, que vibram e amplificam o som, como um sistema de alavancas. Já amplificadas, as vibrações são conduzidas aos líquidos do ouvido interno (cóclea), que atingem as células receptoras e transformam-nas em impulsos elétricos. Através do nervo auditivo, esses impulsos caminham até o cérebro, que os percebe como sons.

O Implante Coclear – É um equipamento eletrônico computadorizado, com 24 eletrodos, que é inserido na parte interna do ouvido, a cóclea. Depois de implantado, esse feixe de eletrodos se conecta a um receptor e faz a função das células inativas, que levam os estímulos sonoros até o cérebro, ou seja, fazem a decodificação em sons. Junto ao receptor, há uma antena e um imã, que servem para fixar a unidade externa e captar os sinais elétricos.

Fonte – Mayte Forte, fonoaudióloga da equipe do médico Arthur Castilho, que operou Diego.

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